Resoluções de Ano Novo

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Por David Powlison

Fui instigado pelo convite de Justin Taylor a oferecer um comentário sobre o fenômeno cultural que chamamos de “fazer resoluções de Ano Novo”. Primeiro, um aviso. Tenho 58 anos e nunca, jamais, fiz uma resolução de Ano Novo. Essa ideia de alguma maneira apenas passou por mim, e simplesmente não é uma categoria de como funciono. Portanto, minhas únicas qualificações como comentarista são ignorância e desconhecimento. Talvez um observador assim enxergue as coisas sob uma nova luz? Possível. Nesse ambiente, certamente sou o indígena da Amazônia entrando numa festa de socialites da área nobre de Manhattan. Tentarei caminhar com os olhos bem abertos. (Fiz uma pesquisa de campo pelo Google e com alguns amigos).

Existem muitas possibilidades negativas em qualquer encontro de culturas. O indígena talvez experimente algum choque e confusão culturais ao entrar em um mundo de atitudes, ações e significados decididamente estranhos. “Eu simplesmente não entendo”. Ou talvez ele se torne arrogante sobre suas pressuposições e práticas, e somente sinta desdém a respeito das peculiaridades dos outros. “Essa febre de resoluções de ano novo é um resquício do paganismo romano”.

Mas existem também possibilidades construtivas num encontro de culturas. Mencionarei três:

Primeiro, talvez ele veja coisas que os moradores de Manhattan têm dificuldade em enxergar: o oceano sociocultural, por assim dizer, em que o socialite cultural nada. Para esse estrangeiro, as resoluções de Ano Novo parecem diferentes e chamativas de várias maneiras:

  1. Algumas resoluções são infantis, mas muitas fazem afirmações profundas. Elas expressam uma necessidade por uma reforma moral detectada. Glutonaria, preguiça, embriaguez, esbanjamento e dívida, isolamento frio dos outros, workaholismo sem alegria, ansiedade sem paz, entretenimento incansável, autoindulgência sexual, amargura e afastamento de amigos e parentes, desorganização desleixada… isso provê alimento para as resoluções de mudança. Elas levantam assuntos que poderiam ser retirados de uma lista de sete pecados capitais (e das sete virtudes), dos dez mandamentos sobre como amar, das 9 manifestações do fruto do Espírito colocadas contra essas “óbvias” obras da carne. Fui impactado por quão significantes essas questões são. “Perder peso, parar de beber, cheirar as rosas, e tratar minha família melhor” não são assuntos triviais – quando vistos de forma adequada.
  2. Este é o obstáculo: forma adequada. Quer infantis ou profundas, resoluções de Ano Novo assim meramente expressam boas intenções. Elas descrevem problemas autorreferenciais – “eu acho x algo desagradável sobre mim mesmo”. Elas não levam em conta o poder de nossas paixões, medos, hábitos… pecaminosidade interior, pecado contra o próprio Deus… e o poder dos males exteriores (incluindo o enculturamento) que nos inclina e constrange. Elas propõem soluções autodependentes – “eu decido fazer y para me mudar”. A mudança depende da imprevisível força de vontade e de estratégias de senso-comum para o autogerenciamento (por exemplo, “escolha alvos alcançáveis que são pessoalmente significantes e realize pequenos passos”). Portanto, elas falham em larga escala. Ou, mesmo quando dão certo, não criam absolutamente nenhuma razão para “alegrar-se sempre, orar continuamente e dar graças em todas as circunstâncias”. Elas não levam em conta o alvo principal do homem, ou a loucura em nossos corações, ou o dom inefável de Deus a pessoas mortas e pecadoras. Resoluções autorreferentes funcionam dentro de um projeto de autossalvação, por mais nobres e desejáveis que sejam os objetivos imediatos em vista.
  3. Além disso, sejam infantis ou profundas, resoluções de Ano Novo expressam puramente intenções individualistas. Um plano de autoaperfeiçoamento não encontra contexto corporativo para um compromisso, nenhuma razão para o esforço conjunto e responsabilidade mútua, e nenhuma participação em uma causa comum maior que cada um e que todos nós. Portanto, fracassa. Ou mesmo que tenha sucesso, repete o dito no parágrafo anterior. Talvez eu me sinta melhor sobre mim mesmo, mas o que Deus está pensando sobre o Melhor Eu que me tornei? Estou me tornando mais integrado ao Santo Nós que é Sua Nova Criação?

Essas são minhas observações externas de Indígena. Essas “resoluções de Ano Novo” tratam de coisas extremamente significantes: falhas morais, autossalvação e individualismo.

3158564715_3c0ea3b34aSegundo, caminhar pela festa em Nova York ajudaria esse Indígena a ver a si mesmo sob uma nova luz. Choques de cultura podem lançar luz em ambas as direções, ajudando-nos a nos tornar propriamente autocríticos. Por que eu não faço resoluções? Talvez eu devesse. Minha “não-categoria” registra um tratamento descuidado, sem objetivos, da vida? Existe uma forma de fazer resoluções que é verdadeiramente construtiva e reordenadora da vida? Ou, talvez eu faça um equivalente funcional às “resoluções”, mas nunca tenha percebido a analogia? E não há algo importante na idéia do senso comum de definir claramente metas e identificar pequenos passos na direção em que você quer se dirigir? Estas questões levam ao meu ponto final.

Terceiro, choques de cultura nos ajudam a nos tornar construtivamente contraculturais. Podemos submeter tanto nossas próprias pressuposições quanto dos outros à crítica e reavaliação. Tanto Indígenas quanto Nova-iorquinos podem mudar, por polinização cruzada, à luz do Redentor de toda tribo. Podemos cada um e todos nós pensarmos sobre essas resoluções de uma nova forma.

Para começar, o que é uma resolução? O que significa, para mim, resolver alguma coisa? (Nós podemos dispensar o “de Ano Novo” como meramente arbitrário, não necessário). Este uso da palavra resolução significa chegar a uma decisão firme e determinada de fazer alguma coisa, de agir de certa maneira, de lutar por certos princípios. Isso soa decididamente cristão. Considerado deste ângulo, o Credo Niceno é um tipo de resolução. E “sou teu servo… eu disse que guardaria as tuas palavras” (Sl 119.124,57) é outro exemplo de resolução. Quando você resolve _____, significa que você expressa formalmente o que você crê, deseja, ou pretende. É uma posição que você toma, uma direção que você escolhe. Depois de pensar e decidir, você se compromete a caminhar em uma trajetória que muda a destinação de sua vida. Colocado assim, a vida cristã inteira pode ser concebida como uma determinação por toda a vida de fazer e caminhar por “Resoluções de Todos os Dias na Nova Criação”.

Deixe-me dar um exemplo específico. Em 1976, novo convertido a Cristo, eu entrei em uma igreja. Fiz isto ao fazer uma resolução em frente a uma congregação inteira de pessoas que pensavam de maneira semelhante. Essas foram as palavras: “eu agora resolvo e prometo, com humilde confiança na graça do Espírito Santo, que me esforçarei para viver como deve um seguidor de Cristo”.

Essa resolução não foi fabricada em alguma ressaca de 1º de janeiro porque fiquei insatisfeito com minha vida nos 12 meses anteriores. É uma resolução que expressa a mente de Cristo, delineando uma nova vida por todos os meus dias e anos. Viver “como deve um seguidor de Cristo” alcança de forma muito séria várias sub-resoluções específicas. Por exemplo, identifica aqueles pecados contra os quais devo estar: glutonaria, preguiça, embriaguez, esbanjamento, impulsividade, ansiedade e os outros.Almeja os frutos da mudança: temperança, diligência, gratidão, domínio próprio, descanso, fé, amor, alegria, paz… e a resolução sobre “confiança humilde” procura deixar muito claro que esse não é um projeto autorreferente e autodependente para a autossalvação.

New Years ResolutionO contexto corporativo, também, era significante. Essa não era minha resolução para 1976. Foi e é nossa resoluçãoem conjunto, sempre, porque capta a resolução e os propósitos de Deus. Uma das maneiras, portanto, que podemos ajudar uns aos outros é por descer aos detalhes. Identificamos os objetivos que indicarão como viveremos hoje, lutamos pelos passos particulares – aqui, agora, para mim, para nós – que nos levarão na direção que Cristo vai.

De fato, sábado passado minha esposa e eu gastamos a melhor parte de uma longa viagem de carro fazendo “resoluções”. Eu não as chamo assim (lembre-se: eu não faço resoluções!), e a proximidade do Ano Novo sequer foi lembrada. Mas, enquanto penso sobre isso, essas novas decisões de fé e amor têm sido parte de toda boa conversa que já tivemos. No sábado, discutimos maneiras de prestar mais atenção a nossas escolhas nos “pontos de encontro e transição” do início e fim de cada dia, e quando um de nós volta para casa. Oramos a Deus um pelo outro. Decidimos e nos comprometemos por expressões específicas de amor. Sentado aqui numa noite de segunda, posso identificar imediatamente o doce fruto de um bom número de escolhas feitas e atitudes expressadas nas últimas 48 horas.

Então, você está fazendo suas resoluções de Ano Novo? Nesta véspera de Ano Novo, decidi fazer uma pela primeira vez em minha vida, e estou fazendo publicamente.

“Eu agora resolvo e prometo, com humilde confiança na graça do Espírito Santo, que me esforçarei para viver como deve um seguidor de Cristo”.

Posso ver implicações muito específicas de minhas escolhas mais tarde (quando Nan e eu formos a uma festa com velhos amigos) e amanhã cedo (quando levaremos nossa filha ao aeroporto).

Então, pela graça de Deus, eu farei esta mesma resolução amanhã no Ano Novo, e, sem dúvida, terá diferentes implicações, em diferentes esferas da vida. (Meu escritório realmente precisa ser revisto e reorganizado. A Universidade do Havaí está jogando no Sugar Bowl. E muitos bons amigos estão encarando cânceres sérios. E…). E, então, pela graça de Deus, eu farei (e viverei) a mesma resolução em 2 de janeiro, e 3 de janeiro, e…, e todos os dias deste novo ano da nova criação de Cristo, todos os dias, enquanto forem chamados Hoje.

Traduzido (com muita dificuldade :P) por Josaías Jr | iPródigo