Segurança: Como eu sei que sou cristão?

Como você sabe que você é cristão?

Cuidado com as respostas teológicas fáceis para problemas espirituais complexos. Teologia ruim normalmente oferece resoluções rápidas (isto é, uma abordagem “bala mágica”). E as pessoas adoram resoluções rápidas, motivo pelo qual teologia ruim sempre permanecerá popular deste lado da glória.

Muito raramente alguém passa pela vida cristã sem algum tipo de crise na segurança da salvação; e, de fato, uma crise de segurança pode ser uma certa bênção se os remédios corretos forem aplicados. Seja qual for o caso, todos nós encaramos a questão: “Como eu sei que eu sou cristão?”. Quem não gostaria de uma solução rápida para essa pergunta eternamente significativa? Mas aqui, talvez mais que em qualquer outra área, nós devemos ser cuidadosos.

Uma expressão popular entre alguns é dizer algo como “quanto à segurança de sua salvação, o cristão deve descansar inteiramente no alegre conhecimento e completa suficiência de sua justificação gratuita” (John Eaton, um pregador antinomista do século XVII).

Ah, se as coisas fossem assim tão simples. Eu queria que essa abordagem funcionasse. Se eu pudesse resolver os problemas de segurança dizendo às pessoas que simplesmente descansassem em sua justificação gratuita, isso tornaria meu ministério pastoral muito mais fácil. Eles devem fazer isso, mas a certeza da fé envolve outras realidades.

Em vez disso, pense em como uma criança sabe que o pai dela é seu pai. Meus filhos não tem dúvidas de que sou o pai deles. Por quê?

Porque eles vivem na mesma casa que eu e nós comemos juntos à mesma mesa (cf. Ef 2.19; Lc 22.7-38).

Porque nós temos caráter, personalidade e aparência semelhantes (cf. 1 Jo 4).

Porque nós falamos uns com os outros com frequência e entendemos nossa linguagem “familiar” (cf. Rm 8.14-16).

Porque eu digo a eles que os amo e eles me dizem que me amam (cf. Rm 5.5, 1 Jo 4.16).

Por que eu disciplino eles (cf. Hb 12.5-11).

Por causa de como eu tratei eles no passado (cf. Rm 8.28; Gn 32.10).

Porque nós compartilhamos o mesmo sobrenome (cf. Mt 28.19).

Porque todos os nossos amigos reconhecem que sou o pai deles (cf. 2 Co 3.18, 1 Jo 3.2).

Porque eles pertencem a uma família com mãe e irmãos, a quem eles também amam (cf. 1 Jo 3.14).

Porque ninguém mais lidaria com a bagunça deles como eu faço (cf. Sl 85.15; todo o Antigo Testamento).

Porque o tempo todo eles recebem presentes que lhes dou (cf. Tg 1.17).

Meus filhos sabem que eu sou o pai deles porque há toda uma multidão de realidades cooperando para dar-lhes a segurança total de que eu sou o pai deles e outros homens, não. Se você pensar sobre essas realidades acima, você mesmo poderá fazer as conexões a respeito da maneira como a vida cristã, especialmente no contexto da igreja, espelha a vida familiar de muitas formas.

Em nossa segurança da salvação, há formas objetivas e subjetivas pelas quais entendemos que somos filhos de Deus. Como cristãos, que são fracos e naturalmente inclinados a duvidar, nós precisamos de toda a ajuda que podemos conseguir de Deus através de sua Palavra e Espírito. Quais são alguns desses remédios?

Às vezes, eu digo a crentes em dúvida que os presbíteros têm as chaves do reino e nós cremos que você é um cristão, então acredite na gente.

Às vezes, eu digo a cristãos que as palavras ditas pelo Pai ao Filho – “Tu és o meu Filho amado em quem me comprazo” – são palavras que o Pai fala a nós porque pertencemos a Cristo.

Às vezes, eu digo a cristãos que façam melhor uso dos meios de graça, especialmente da Ceia do Senhor, onde as promessas objetivas de Deus são seladas a nós enquanto comemos e bebemos pela fé (fraca, às vezes).

Às vezes, eu pergunto se eles têm pecados não confessados que não foram tratados ainda (Sl 32.3, 1 Jo 1.9).

Às vezes, eu digo a cristãos que eles precisam cantar mais Salmos, porque então eles perceberão muito rapidamente de que lado eles estão (Sl 83).

Às vezes, eu lhes digo que eles precisam obedecer os mandamentos de Deus (2 Pe 1.5-11). Mas eu também lhes digo que Deus aceita obediência imperfeita, mas sincera.

Às vezes, eu pergunto a cristãos em dúvida se eles amam o povo de Deus, que é um sinal de que se é filho de Deus (1 Jo 3.11-24).

Às vezes, eu digo a cristãos que orem mais, e continuem a chamar a Deus de Pai, pois o Espírito de adoção nos capacita a clamar “Aba, Pai!”. (Rm 8.15-16).

Às vezes, eu digo a cristãos em dúvida que sua falta de fé é sinal de fé (Mc 9.24). Afinal, incrédulos não lutam com a falta de fé.

Às vezes, eu argumento que a disciplina divina sobre os crentes é sinal de seu amor paternal (Hb 12).

Às vezes, eu tento convencer cristãos de que Jesus está mais interessado em justificá-los, santificá-los e abençoá-los do que eles estão em serem justificados, santificados e abençoados.

Em outras palavras, cristãos precisam ser tratados como pessoas, não como salsichas numa fábrica passando pela esteira rolante. Cada pessoa tem necessidades, questões, problemas peculiares, e essas necessidades devem ser tratadas individualmente.

Assim, cada cristão receberá a segurança da salvação não com um twit ou citação provocativa, mas vivendo a vida cristã normal, e tudo o que isso significa. Colocando de outra forma, a vida cristã é como um ecossistema saudável (i.e., uma comunidade biológica de organismos em interação e seu ambiente físico). Cristãos deveriam ter uma comunidade espiritual de realidades espirituais em interação num ambiente (i.e., a igreja) onde nós chegamos ao conhecimento e fé de que somos filhos de Deus. Tire-nos desse ambiente e perdemos as bases da nossa segurança.

Qualquer uma dessas realidades não é suficiente por si só para nos dar a segurança completa da salvação que Deus deseja que seus filhos tenham. Mas, se a Bíblia fala a verdade, nenhuma dessas realidades foi projetada para funcionar sozinha na vida cristã.

Cuidado com a abordagem da bala mágica. No início, ela pode satisfazer, mas, como qualquer droga barata, nunca dura.