Um buraco em nossa santidade

por Kevin DeYoung

Tenho uma preocupação crescente de que os evangélicos mais jovens não levem a sério o chamado bíblico para a santidade pessoal. Eles estão muito tranquilos com o mundanismo em seus lares, muito descansados com o pecado em suas vidas, muito satisfeitos com a imaturidade espiritual de nossas igrejas.

A missão de Deus no mundo é salvar um povo e santificar seu povo. Cristo morreu “para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2 Co 5.15). Fomos escolhidos em Cristo “antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele” (Ef 1.4). Cristo “amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5.25-27). Cristo “deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniqüidade, e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras” (Tt 2.14).

J.C. Ryle, o Bispo de Liverpool do século XIX, estava certo: “Devemos ser santos, pois esse é o grande fim e propósito pelo qual Cristo veio ao mundo… Jesus é um Salvador completo. Ele não tira meramente a culpa do pecado de um pecador, Ele faz mais – Ele destrói seu poder (1 Pe 1.2; Rm 8.29; Ef 1.4; 2 Tm 1.9; Hb 12.10)”. Meu medo é que, enquanto corretamente celebramos, e em alguns lugares redescobrimos, do que Cristo nos salvou, reflitamos pouco e nos esforcemos pouco em relação a para que Cristo nos salvou.

A busca da santidade não ocupa o espaço que deveria em nossos corações. Existem muitas razães para a relativa negligência da santidade pessoal.

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1) No passado, era muito comum igualar santidade com abster-se de algumas práticas tabus como beber, fumar e dançar. Em uma geração anterior, piedade significava que você não praticasse essas coisas. Gerações mais novas tem pouca paciência com esse tipo de regras. Eles ou discordam dessas regras ou descobrem que já têm todas as justificativas, logo não há nada para se preocupar.

2) Junto com a primeira razão há o medo de que a paixão pela santidade transforme você em um tipo de resquício estranho de uma era passada. Logo que se começa a falar sobre palavrão ou filmes ou música ou modéstia ou pureza sexual ou autocontrole ou simplesmente piedade, as pessoas ficarão nervosas, tememos que outros nos chamem de legalista, ou pior, de fundamentalista.

3) Vivemos numa cultura do legal, e ser legal significa que você deve se diferenciar dos outros. Isso geralmente significa ir mais além em relação ao vocabulário, ao entretenimento, ao álcool, e à moda. É claro, santidade é muito mais que essas coisas, porém, num esforço de ser cool muitos cristãos descobriram que santidade não tem nada a ver com essas coisas. Eles aceitaram voluntariamente a liberdade cristã, mas não têm buscado sinceramente a virtude cristã.

4) Entre muitos cristãos liberais, uma busca radical pela santidade é frequentemente suspeita, porque qualquer conversa de comportamento certo ou errado parece farisaico e intolerante. Se devemos ser “irrepreensíveis e sem mácula”, é necessário distinguir entre os tipos de atitudes, ações e hábitos que são puros e os tipos que são impuros. Esse tipo de distinção te coloca em problemas com os fiscais do pluralismo.

5) Entre os cristãos conservadores, existe às vezes a noção errônea de que, se somos verdadeiramente centrados no Evangelho, não falaremos sobre regras ou imperativos ou exortaremos cristãos ao esforço moral. Para ser claro, existe um risco de ensino moralista por aí, mas algumas vezes, vamos ao outro extremo e agimos como se a Bíblia não falasse sobre moral. Estamos tão ansiosos em não confundir indicativos com imperativos (um argumento que defendi várias vezes) que, se não formos cuidadosos, nos livraremos de todos os imperativos. Tememos palavras como diligência, esforço e obediência. Diminuímos versos que nos chamam a por em ação a nossa salvação com temor e tremor (Fp 2.12) ou nos ordenam a nos purificar de tudo o que contamina o corpo e o espírito (2 Co 7.1) ou nos advertem mesmo contra qualquer menção de imoralidade entre os santos (Ef 5.3).

Descubro que você pode encontrar muitos jovens cristãos hoje que estão realmente empolgados em relação à justiça e serviço a nossas comunidades. Você pode encontrar cristãos inflamados quanto ao evangelismo. Você encontra muitos crentes das gerações XYZ apaixonados por uma teologia precisa. Sim e Amém para tudo isso. Mas onde estão os cristãos conhecidos por seu zelo pela santidade? Onde está a paixão correspondente por honrar a Cristo com uma obediência semelhante à Cristo? Precisamos de mais líderes cristãos em nossos campi, em nossas cidades, em nossos seminários, que dirão com Paulo: “Tenham cuidado com a maneira como vocês vivem” (Efésios 5.15)?

Qual foi a última vez que tomamos um verso como Efésios 5.4 – “Não haja obscenidade nem conversas tolas nem gracejos imorais, que são inconvenientes, mas, ao invés disso, ação de graças” – qual a última vez que pegamos um verso como esse e começamos a tentar aplicá-lo a nossas conversas, piadas, filmes, vídeos do Youtube, televisão ou compras? O fato é que se você ler as epístolas do Novo Testamento você encontrará poucos mandamentos explícitos para que evangelizemos e muitos poucos mandamentos que nos dizem para cuidarmos dos pobres em nossas comunidades, mas existem muitos e muitos versos no Novo Testamento que nos instruem, de uma forma ou outra, a ser santos como Deus é santo (por exemplo, 1 Pedro 1.13-16).

Não desejo denegrir qualquer outra ênfase bíblica que chama a atenção dos jovens evangélicos. Mas creio que Deus gostaria que fôssemos mais cuidadosos com nossos olhos, nossos ouvidos e nossa boca. Não é pietismo, legalismo, ou fundamentalismo levar a santidade a sério. É o caminho de todos aqueles que foram chamados para uma santa vocação por um Deus santo.

Traduzido por Josaías Jr | iPródigo | original aqui