Quando os judeus viram Cristo chorando em frente ao túmulo de Lázaro, sua demonstração de profundo afeto (João 11.35) provocou essa declaração: “Vejam como ele o amava!” (João 11.36). As atitudes e ações de Cristo deixaram aqueles que assistiam a cena sem dúvida alguma dos sentimentos de Cristo por seu amado amigo, apesar de, por ignorância, se referirem usando o tempo passado. De forma similar, quando pensamos nas atitudes e ações de Cristo para com qualquer filho de Deus, por mais que as circunstâncias sejam bem diferentes, nós podemos dizer “Vejam como ele ama!”.
O amor de Cristo por seu povo é algo valioso para se refletir, meditar e considerar. Faz bem a nossas almas lembrar-nos como fomos e somos amados pelo Salvador. O amor de Cristo é como as muitas faces de um diamante – nós podemos girá-lo sob a luz de nossa experiência para encontrar o aspecto que mais brilha em dado momento. As demonstrações do amor de Cristo são como as cidades-refúgio: em tempos de tribulação, fugimos para aquela mais próxima em busca de abrigo. Assim, reflita nesses pensamentos a seguir sobre o amor de Cristo, algumas dentre as muitas maneiras pelas quais você, filho de Deus, é amado por ele, e se aprofunde naquelas que lhe forem mais preciosas agora. O amor dEle por você é um amor…
… sem começo. Você foi amado em Cristo antes da fundação do mundo (Efésios 1.4, João 17.23-24) – as afeições do Deus triuno para com você sempre estiveram firmadas em Cristo, nosso representante desde antes do tempo começar. Cristo sempre olhou por você: seu amor é eterno (Jeremias 31.3).
… do mais alto grau. É um exemplo de amor extravagante: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos.” (João 15.13).
… tão demonstrado quanto declarado. Muitos falam de amor sem amar. Mas o Senhor não apenas fala de seu amor – repetidas vezes – mas o demonstra de formas incontáveis. Assim como João encorajou os santos, “Filhinhos, não amemos de palavra nem de boca, mas em ação e em verdade”, Cristo também nos mostra seu amor em ação e em verdade.
… provado acima de qualquer dúvida. Há períodos em que nossa confiança no amor de Cristo é abalada, mas quando olhamos para a cruz, podemos dizer junto com Paulo que Ele “me amou e se entregou por mim” (Gálatas 2.20). A cruz – a maior demonstração de amor – elimina qualquer possibilidade de que ele não me amou ou não me ama.
… além do entendimento humano. É como um oceano infinito, acima da compreensão e apreciação humana, um amor que excede a todo entendimento (Efésios 3.19), superior a qualquer esforço nosso de tentar compreendê-lo – como mercúrio, você pode ter algumas pequenas gotas brilhantes em sua mão, mas o oceano brilhante está além do seu alcance.
… que não é reprimido pelo pecado. O pecado é repulsivo e repugnante – o maior obstáculo que o amor precisa superar (1 Pedro 4.8) – mas o amor de Cristo de fato o supera e não é derrotado por ele. Pelo contrário, é perante o pecado que o amor mostra sua real profundidade: “De fato, no devido tempo, quando ainda éramos fracos, Cristo morreu pelos ímpios. Dificilmente haverá alguém que morra por um justo, embora pelo homem bom talvez alguém tenha coragem de morrer. Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores.” (Romanos 5.6-8).
… que paga o preço completo da redenção dos amados. Para comprar aqueles quem ele amou, o Filho pagou tudo que era necessário. O Bom Pastor disse “dou a minha vida pelas ovelhas.” (João 10.15). Era necessário derramar sangue, entregar uma vida, e Cristo não se apegou a nada em si mesmo para redimir aqueles que ele amou.
… que mantém um interesse de oração. Muitas vezes o amor se esvai – as afirmações ardentes dão lugar a demonstrações amenas. Mas não com Cristo: ele vive para sempre em intercessão pelo seu povo (Hebreus 7.25). Tendo morrido por nós, ele vive por nós, e nós somos objeto constante de sua perfeita intercessão. Você já passou para refletir que o Senhor ressurreto da Glória intercedeu por você hoje? Que maravilha!
… que nos mantém absolutamente seguros. O amor de Cristo é a base para a nossa certeza, é o laço carmesim que nos mantém para sempre ligados a Deus. “Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: “Por amor de ti enfrentamos a morte todos os dias; somos considerados como ovelhas destinadas ao matadouro” Mas, em todas estas coisas somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Pois estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.” (Romanos 8.35-39). Sendo tão amado assim, não é possível deixar de se sentir amado.
… que não vai ignorar o pecado que há em nós. Talvez você nunca tenha refletido que grande ato de amor é o Senhor se preocupar com o pecado que você comete: “Repreendo e disciplino aqueles que eu amo. Por isso, seja diligente e arrependa-se.” (Apocalipse 3.19). Um amor que não se importa com a presença maligna do pecado em seu objeto não é um amor real: seria como dizer que você ama alguém mas está feliz com essa pessoa vivendo na sujeira.
… que realmente vence o nosso pecado. Há um aspecto positivo também. O amor que lida com o pecado gera santidade. Exortar e repreender são meios de produzir santidade em nós: “… pois o Senhor disciplina a quem ama, e castiga todo aquele a quem aceita como filho’ Suportem as dificuldades, recebendo-as como disciplina; Deus os trata como filhos. Ora, qual o filho que não é disciplinado por seu pai? Se vocês não são disciplinados, e a disciplina é para todos os filhos, então vocês não são filhos legítimos, mas sim ilegítimos. Além disso, tínhamos pais humanos que nos disciplinavam, e nós os respeitávamos. Quanto mais devemos submeter-nos ao Pai dos espíritos, para assim vivermos! Nossos pais nos disciplinavam por curto período, segundo lhes parecia melhor; mas Deus nos disciplina para o nosso bem, para que participemos da sua santidade.” (Hebreus 12.6-10).
… que nunca se impacienta. Esse é realmente um amor que tudo suporta (1 Coríntios 13.7). Lembre-se de como muitas vezes o nosso Senhor, em uma frustração santa, se perguntou quanto tempo ele precisaria conviver com seus discípulos ignorantes e titubeantes. E quanto tempo ele suportou conviver com eles? Ele suportou a convivência com eles até o final, e convive conosco até agora. Para nós é muito fácil que nosso amor seja minado pela irritabilidade, mas o amor de Cristo não é vencido por nossas falhas e tolices.
… que remove nossos medos. Não precisamos temer nada se somos tão amados. Mesmo no dia do julgamento, tão assombroso e terrível, mesmo não deixando de ser tão assombroso e terrível em si mesmo, deixa de ser um terror completo para aquele que faz parte de um relacionamento profundo de amor com Deus: “No amor não há medo; ao contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor.” (1 João 4.18).
… que nunca nos abandona. Nós clamamos “Não me desampares nem me abandones, ó Deus, meu salvador!” (Salmo 27.9), chamando por aquele mesmo que nos deu a própria promessa (Deuteronômio 31.6-8; Hebreus 13.5). Seu amor é tão forte quanto a morte (Cântico de Salomão 8.6).
… que vai durar para sempre. É um amor eterno (Jeremias 31.3), que não somente não tem começo como também se estende até a eternidade futura. Nunca deixaremos de ser amados por Cristo. Quando Cristo retornar, os mortos ressuscitarão, e “nós, os que estivermos vivos seremos arrebatados com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre.” (1 Tessalonicenses 4.17). Para sempre com o Senhor! Para sempre com aquele que nos amou e se entregou por nós.
… mantido como um padrão para todo amor. O “novo mandamento” de Cristo é “Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros.” (João 13.34; 15.12). Repetidamente somos apontados para o amor de Cristo como o maior e mais duradouro modelo de amor, o padrão perfeito do que o amor realmente é (veja, por exemplo, 1 Coríntios 13.4-8; Filipenses 2.1-8). É assim que sabemos o que o amor é: “Jesus Cristo deu a sua vida por nós, e devemos dar a nossa vida por nossos irmãos.” (1 João 3.16).
… que oferece lembretes constantes de sua realidade e de sua natureza. Podemos ver esses lembretes espalhados por toda a Escritura e em nossa própria experiência. Entretanto, talvez de forma preeminente, é a ceia do Senhor que nos remonta à demonstração suprema desse amor em sua morte por nossa remissão, nos leva a expressões presentes desse amor na comunhão com o Cristo ressurreto por seu Espírito e nos aponta para o futuro da consumação do amor quando ele retornar: “Pois recebi do Senhor o que também lhes entreguei: Que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão e, tendo dado graças, partiu-o e disse: “Isto é o meu corpo, que é dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim”. Da mesma forma, depois da ceia ele tomou o cálice e disse: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue; façam isso sempre que o beberem em memória de mim”. Porque, sempre que comerem deste pão e beberem deste cálice, vocês anunciam a morte do Senhor até que ele venha.” (1 Coríntios 11.23-26).
O Senhor Cristo quer que pensemos em seu amor. Com que frequência você pode dizer “Reflita, minha alma. Louve e adore! Clame ‘oh, porque tão grande amor por mim?’” como Charles Spurgeon disse? Você para e reflete, medita e considera o amor que Cristo tem por você como uma de suas ovelhas, individualmente?
Fazer isso vai aumentar sua alegria. Que felicidade há em saber que essa disposição de Cristo para conosco! Isso vai aprofundar nossa segurança. Saber que somos amados será uma defesa poderosa contra as insinuações do diabo de que somos inúteis (nós sabemos que somos, mas isso não impediu Jesus de nos amar) e o enfraquecimento da nossa paz com Deus. Vai refinar nossa gratidão, pois quanto mais nós vemos da bondade e da misericórdia do Senhor ao nos amar assim, mais seremos trazidos à humilde perplexidade perante tal bondade destinada a nós. Vai nos levar a amar: ser tão amado não pode senão nos levar para aquele que tanto nos amou: “Nós amamos porque ele nos amou primeiro.” (1 João 4.19). Como não poderíamos, quando vemos a forma com que ele nos amou e ainda nos ama?