5 mitos sobre o perdão

Sam Storms
Sam Storms

“Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, e assim como Deus, perdoou vocês em Cristo” (Efésios 4.32)

“A maioria dos avanços de Satanás na vida dos cristãos”, escreveu Neil Anderson, “é devido à falta de perdão”. Eu não poderia concordar mais. Não é difícil imaginar o porquê, uma vez que percebemos que falta de perdão gera amargura, ressentimento, raiva, maldade, e até mesmo desespero. Para nós, nada é mais importante do que saber o que é perdão, e o que não é. Então o que proponho nesse estudo é , primeiro, examinar cinco mitos sobre o perdão, isto é, cinco mentiras que muitos de nós tem abraçado sobre o que significa perdoar outra pessoa. Então, voltarei para falar sobre cinco verdades sobre perdão, ou cinco elementos essenciais que, sem eles, nunca haverá um perdão verdadeiro.

Mitos:

1. Ao contrário do que muitos têm sido levados a acreditar, perdão não é esquecer.

“Perdoe e esqueça”, temos dito por muitos anos. É bonito de dizer, mas altamente ilusório. Por quê?

Antes de tudo, apesar do que você pense que Jeremias 31:34 está dizendo (“Porque eu lhes perdoarei a maldade e não me lembrarei mais dos seus pecados”), Deus não se esquece. Esta linguagem do profeta é uma metáfora, uma figura de linguagem, com intuito de enfatizar a determinação da graça de Deus em não manter-nos responsáveis por nossos pecados. Ele cancelou o débito e nunca exigirá um pagamento. Se Deus pudesse literalmente “esquecer”, isso enfraqueceria a verdade sobre sua onisciência. Deus sempre sabe e sempre saberá todas as coisas, mas ele prometeu nunca usar nossos pecados contra nós ou nos tratar como se a realidade de nossos pecados estivesse presente em sua mente.

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Segundo, “perdoar e esquecer” é, simplesmente, psicologicamente impossível. Assim que você se concentrar para esquecer algo, pode ter certeza que, na maioria das vezes, é a única permanecerá à frente de sua consciência. Todos nós esquecemos coisas ao longo do tempo, mas o fazemos involuntariamente. Vida, experiência e a idade acabam apagando certas coisas de nossas memórias, mas raramente, ou nunca, são feridas que sofremos ou pecados cometidos contra nós.

Terceiro, achar que perdão demanda esquecimento pode ser emocionalmente devastador. Vamos supor que Jane demora dois meses para esquecer uma traição de Sally. Ela está se saindo bem e não gasta um segundo de seu pensamento com o pecado de Sally. Então é dito a Jane que Sally agiu da mesma forma com Mary, e ela imediatamente lembra a ofensa que sofreu. De repente, ela está cheia de culpa por não ter esquecido. O que ela achava que tinha expulsado de sua mente, agora, involuntariamente, volta correndo, e ela se sente como uma completa fracassada por não ter “realmente” perdoado sua amiga. Pior ainda, agora ela sente-se como uma hipócrita por ter prometido esquecer e agora simplesmente volta ao sentimento de raiva e ressentimento contra Sally. Jane não está só devastada, mas agora percebe o quão impossível é, literalmente, esquecer algo tão doloroso. Isso a faz extremamente relutante em perdoar alguém de novo, por achar que seu coração é incapaz de esquecer.

2. Perdoar alguém não significa que você já não sente mais a dor de suas ofensas

Na maioria dos casos, a única maneira de parar a dor é parar o sentimento, e a única forma de para o sentimento é morrer emocionalmente. Mas robôs sem coração não podem amar verdadeiramente a Deus ou aos outros. Essa pode ser a principal razão das pessoas serem relutantes em perdoar. Eles sabem que não podem deixar de sentir a ferida do pecado contra eles e não querem ser hipócritas ao dizer que perdoaram quando no fundo eles sabem que não o fizeram.

Vamos supor que Barbara descobre que seu marido, Bill, teve um caso. A agonia e o sentimento de profunda traição são intensos. Embora Barbara procurasse aconselhamentos extensivos, ela acabou separada de seu marido por um tempo. Depois de se reconciliarem, ela o perdoa, mas sob o pressuposto que para ela isso significa que nunca mais sentirá a dor do adultério. Então, uma noite ela vê Bill sorrindo e conversando com outra mulher na igreja. Apesar disso não ser nada além de uma simples simpatia, a angústia e suspeita de sua traição voltam rapidamente para dentro de sua alma. Ela repreende-se e questiona sua própria sinceridade: “Qual o problema comigo que não consigo superar isso?” Barbara tem que aprender que a dor da traição de seu marido provavelmente nunca irá se dissipar, mas isso não significa que ela verdadeiramente não o perdoou.

3. Perdoar alguém que pecou contra você não significa que você não tem anseio por justiça

Esteja certo disso: vingança não é uma coisa ruim! Se fosse assim, Deus estaria encrencado, pois Paulo nos diz, “Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está escrito, ‘Minha é a vingança; eu retribuirei’, diz o Senhor” (Romanos 12.19). Aguardar por justiça é inteiramente legítimo, mas procurá-la por si próprio não é. Deixe Deus tratar com o ofensor de seu próprio jeito e no tempo apropriado. Ele é muito melhor nisso do que eu ou você.

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O ponto é que o perdão não significa que você ignora o que foi feito de errado ou que você nega o pecado que foi cometido. Perdão não significa que você está fechando seus olhos para atrocidades morais ou finge que não se machucou, ou que isso realmente não importa se o ofensor é chamado a responder por suas ofensas contra ele/ela. Você não está sendo convidado a diminuir a gravidade do delito ou dizer aos outros, “Ah, não foi nada disso, afinal de contas, não era grande coisa.” Perdão significa simplesmente que você determina em seu coração deixar Deus ser o vingador. Ele é o juiz, não você.

Frequentemente, nós recusamos perdoar os outros porque, equivocadamente, achamos que para fazermos isso temos que minimizar seus pecados. “E isso não é justo! Ele realmente me machucou. Se eu perdoar, quem irá se importar em defender minha causa e tratar minhas feridas?” Deus irá. Não devemos nunca comprar a mentira de que o perdão significa que o pecado foi limpo, ignorado, ou que o autor não será responsável por suas ações. É simplesmente que, conscientemente, escolhemos deixar Deus ser o único que determina o curso adequado de ações para lidar com justiça com a pessoa ofensora.

4. Perdoar não significa que você deixará facilmente o ofensor te machucar de novo.

Talvez eles te machuquem de novo. Isso é decisão deles. Mas você deve estabelecer limites nos seus relacionamentos com eles.  O fato de estabelecer regras que determinam como e quanto você interage com essa pessoa no futuro não significa que você não conseguiu sincera e verdadeiramente perdoá-la. Amor verdadeiro nunca auxilia e nem é cúmplice do pecado do outro. O autor pode se ofender se você definir parâmetros em sua amizade para impedi-lo de cometer novos danos. Eles podem até dizer, “Como você atreve? Isso prova apenas que você não queria dizer o que disse ao me perdoar.” Não compre essa idéia de manipulação. Perdão não significa se tornar um capacho indefeso e passivo para o pecado contínuo.

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5. Perdão raramente é um evento único, pontual

É na maioria das vezes um processo vitalício. Entretanto, o perdão tem que começar alguma hora e em algum lugar. Sem dúvida, haverá um momento, um ato, quando você decidirá decisivamente perdoar. Isto pode muito bem ser altamente emocional e intenso espiritualmente e trazer alívio imediato; um senso de libertação e liberdade. Mas isso não significa, necessariamente, que você nunca precisará fazer de novo. Você pode precisar reafirmar a si mesmo seu perdão à outra pessoa todos os dias. Cada vez que você vê a pessoa, você pode precisar dizer a você mesmo, “Lembre que você perdoou o(a) _________!”

Podem existir muitos outros mitos sobre perdão, mas estes são provavelmente os mais importantes deles.

Na próxima parte, vamos voltar nossa atenção para a essência do perdão verdadeiro.

Traduzido por André Carvalho | iPródigo.com | Original aqui