A igreja que eu pastoreio fica a menos de cinco quilômetros do local do massacre da última Sexta-Feira, onde 26 pessoas foram assassinadas. Certamente esse evento irá, de certa forma, definir e moldar a vida espiritual da comunidade pelas próximas décadas. Eu sei que afetará profundamente a minha família; muitos dos que foram mortos tinham a mesma idade que uma das minhas três filhas.
Eu passei a última Sexta no centro de aconselhamento que a cidade organizou, onde as famílias se reuniram a espera de notícias sobre seus filhos, ou saber se havia novas informações. Em certo momento, um oficial veio e comunicou – da melhor forma que ele conseguiu – que se os filhos de alguém ainda não tivessem sido encontrados, certamente estariam entre os que faleceram. Todo aquele dia foi, compreensivelmente, um dia de choro. Tudo o que eu pude fazer foi aproveitar qualquer oportunidade que houvesse para ministrar um pouco de graça às vidas daquelas pessoas.
“Chorar com os que choram” foi o primeiro e mais óbvio mandamento bíblico a se aplicar. E não difícil fazê-lo. Foi um evento trágico, e eu sou incapaz de imaginar a dor de perder um filho, de acordar no dia seguinte e ver uma cama vazia que jamais seria usada novamente. Pelos os que sofreram perdas e não são cristãos, eu orei para que Deus se revelasse a eles, e os levassem a Cristo. Pelos que já conhecem o Senhor, eu busquei encorajá-los a se lembrarem que Deus ainda está em seu trono e que isso – por mais difícil que seja de imaginar – é parte de Sua vontade. Há um bem no fim desse mal inimaginável. Talvez alguns sejam levados a Cristo por meio dessa provação. Talvez alguns crentes serão encorajados a confiarem mais em Deus, e viverem para ele mais fielmente. Nós não sabemos que bem é esse, mas sabemos que a palavra de Deus promete àqueles que foram chamados por Deus que todas as coisas cooperam para seu bem espiritual e a glória eterna dEle.
O rei Davi entendeu essa verdade quando seu filho morreu. Ele foi confortado pelo conhecimento de que seu filho não voltaria para ele, mas que ele se encontraria com seu filho quando ele mesmo morresse, e estaria na presença do Senhor.
O desafio, nessa provação, é, claro, encontrar conforto na soberania de Deus e na realidade da graça; não é minimizar o sofrimento, mas dar esperança e brilhar a luz da glória suprema de Deus por meio dela. Por meio da graça de Deus, Ele dá aos crentes a habilidade de olhar além da perda chocante e da maldade hedionda do pecado e, com o tempo, começar a vislumbrar Seus propósitos gloriosos.
Mas agora, exatamente agora, estamos lidando com o fato de que esse foi um ato absurdamente maligno. Esses assassinatos nos mostram a maldade do homem e a depravação do coração humano. Todos nós temos essa capacidade para o mal nós – nós todos não cometemos esse tipo de crime hediondo, mas a realidade do pecado está em cada um. E é isso que leva à glória da cruz. Há um salvador que carregou a culpa da lei que a maldade de nossos corações merecia. Há um salvador que é maior que esse ato terrível. Nesse sentido, quanto maior o pecado, mais gloriosa é a cruz. Tanto é que na maior das tragédias – o assassinato de Jesus – Deus estava trabalhando sua graça, com o objetivo de ela fosse conhecida por nós.
É preciso notar que esse tipo de pecado e perdas imensas não estão ausentes das páginas da Escritura. Jó teve sua família assassinada pelo diabo, e respondeu com um coração de fé: “o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR!” E a fé de Jó na mão soberana de Deus deve ser a nossa fé nesse momento.
Ao mesmo tempo, nós podemos lembrar que Jó questionou “por que?”, como somos também inclinados a questionar. Devemos entender, entretanto, que Deus nunca respondeu esse questionamento de Jó, nem permitiu que Jó questionasse sua sabedoria. Pelo contrário, Deus simplesmente apontou Jó para seu caráter, soberania e sabedoria gloriosos. E Jó encontrou um lugar de bênção quando descansou nisso. Essa bênção veio por descansar nos propósitos gloriosos de Deus. Penso que queremos respostas, mas Deus não nos dará todas. Ao invés disso, ele rebela seu caráter e sua glória. E isso é fé – descansar na mão soberana de Deus. Sem saber o porquê, mas sabendo no que se apoiar, em meio a perdas. Deus não responde nossas perguntas; ELE é a nossa resposta.
No sofrimento, o propósito de Deus é nos levar a Ele e à suficiência em Cristo. Deus apontou Jó para sua glória revelada na criação, mas nós temos muito mais. Jó não sabia sobre a cruz onde Deus revelaria sua glória, graça e caráter de uma forma que nunca havia sido revelada. Ele esmagou seu filho pelos pecadores. Ele demonstrou seu amor em, enquanto nós éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós. A vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo é a revelação suprema do caráter de Deus. A morte não é o fim da história para aqueles que se voltam para Cristo, mas sim a vida eterna no Filho.
É por isso que, ao final de cada dia, mas especialmente na última Sexta-Feira, nós oramos para que Deus aponte as pessoas para a cruz de Cristo. Que nesse crime terrível que coloca as consequências horríveis do pecado e da morte a nossa frente, que a gloriosa mensagem da vida de Cristo seja proclamada por seu povo, para que assim, contra a escuridão dessa maldade, a luz de Cristo brilhe mais intensamente.