Tentação

por Tim Challies

No livro Old Testament Theology, de Bruce Waltke, o autor escreve sobre a queda do homem ao pecado e discute a forma que a primeira tentação de Satanás tomou. Ele sugere que este ato original de tentação é um arquétipo dos outros. Todas as tentações que se seguiriam por toda a longa história da experiência humana imitariam esta. Satanás tentou o segundo ser humano da mesma maneira que tenta o vigésimo bilionésimo (ou seja lá qual eu sou). Não é apenas Satanás que trabalha desta forma, no entanto, mas todos os seres humanos. Temos a tendência de seguir Satanás ao levar outros ao pecado da mesma maneira.

Aqui estão cinco passos para levar outra pessoa ao pecado.

Seja um teólogo. Existe pouca dúvida de que Satanás é um teólogo, e um hábil e direto. Ele teve muito tempo para estudar Deus e, como líder entre os anjos, em certo momento desfrutou de livre acesso e comunhão íntima com ele. Satanás conhece a Deus e conhece o caráter de Deus. Mas, diferente dos teólogos que procuramos ser, Satanás é um teólogo que despreza a Deus com cada fibra do seu ser. Quando ele se volta para Eva e diz: “Foi isto mesmo que Deus disse…?”, ele leva Eva a um diálogo que abre sua mente para uma nova realidade de possibilidades, uma que ela não teria pensado por si só. Ele conhece Deus o bastante para saber o que Deus tinha dito e feito.

Mas, há mais. Satanás não é apenas um estudante de Deus, mas também dos homens. A partir do momento em que Deus falou a primeira vez do homem, Satanás deve ter assistido e observado. Sabendo que o homem seria a coroa da criação, Satanás certamente procurava por uma abertura, uma forma de destruir essa joia. Ele se tornou um estudante dos caminhos dos homens. Como um teólogo, um psicólogo e um antropólogo, Satanás tem uma habilidade única de levar os homens a se perderem.

Transforme mandamentos em perguntas. Satanás pega o mandamento de Deus e o reescreve como uma pergunta. “Foi isto mesmo que Deus disse?”. O que era uma afirmação clara de repente se torna nebulosa. Posando como teólogo ele pergunta: “você está certa sobre isso, ou é apenas o testemunho de Adão do que Deus disse? Você tem certeza? É realmente uma ordem? Podemos discutir isso um pouquinho? É possível que você tenha interpretado mal o que Deus disse? É possível que haja algum contexto aqui que você ignorou?”. Waltke diz: “Dentro do quadro da fé, essas questões são convenientes e necessárias, mas quando elas são feitas para nos levar para longe da simplicidade da obediência de uma criança, elas são erradas”. E então, vemos Satanás levantando perguntas de interpretação e autoridade criadas necessariamente para criar dúvida e confusão, e levá-los para longe da simplicidade de uma obediência infantil.

Enfatize a proibição acima da liberdade. Satanás cuidadosa e deliberadamente distorce “vocês podem comer de toda árvore do jardim” para “vocês não podem comer nenhuma árvore do jardim?”. Ele negligencia a grande liberdade que Deus deu a Adão e Eva e, em vez disso, valoriza a única proibição. Ele faz com que Eva foque a proibição ao contrário do dom da liberdade. Ao invés de focar na Árvore da Vida, da qual ela era livre para comer, e nas milhões de outras árvores disponíveis a ela, Satanás fez com que ela focasse seu coração na única árvore que ela não poderia comer. E Eva começou a focalizar não no que lhe fora dado, mas no que lhe fora proibido. E, de repente, nada, senão o que foi proibido poderia satisfazê-la.

Duvide dos motivos e da sinceridade de Deus. Satanás modela os motivos de Deus como autorrespeito ao invés de amor. “Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês, como Deus, serão conhecedores do bem e do mal”. Ele convence Eva de que Deus está lhe limitando, que ele não está dando a ela a medida completa da humanidade. Ele está guardando, reservando para si mesmo coisas que ela merece conhecer e experimentar. Como Waltke diz, nós ouvimos essa mensagem o tempo todo ao nosso redor hoje. “Se liberte! Seja livre! Realize-se! Libere seu potencial interior! A mensagem da serpente ecoa até mesmo na igreja. Ao invés da santificação, a igreja procura autoaperfeiçoamento. Ao invés de santidade, a igreja procura felicidade”. Quando você ouve coisas assim, pode se sentir seguro de que a Serpente está mais uma vez no trabalho de procurar convencê-lo de que você precisa de algo diferente daquilo para o que foi criado.

Negue que o que Deus diz é verdade. No passo final, Satanás claramente nega o que é verdade. “Certamente não morrerão!”. O fruto de toda dúvida e ressentimento é descrença. Se as palavras de Deus parecem nos afastar de nos tornar o que queremos ser ou de fazer o que queremos fazer, Satanás nos convence de que podemos seguramente ignorá-las. Na igreja de hoje, muitas pessoas deixam de enfatizar o pecado porque pode nos atrapalhar na busca por autorrealização ou pode fazer as pessoas se sentirem culpadas ou destruir sua autoestima. “Infelizmente, muitas igrejas evangélicas estão no processo de compra de um Evangelho livre da culpa, livre da dor e livre de julgamento”.

Em face a uma tentação assim, a mulher cede às negações e meias-verdades de Satanás. “Tendo retirado todas as defesas espirituais de Eva, a obra de Satanás está feita”. Sem Deus, a decisão será feita puramente na base do pragmatismo, do que funciona melhor para trazer o fim desejado, na base da estética, do que é bonito, na base do autoaperfeiçoamento, do que trará a ela suposta sabedoria. É apenas um pequeno passo daqui para a desobediência sem reservas.

E, assim, Satanás trabalha por meio do questionamento, dúvida, focando no que é proibido, e finalmente na negação clara da verdade. E Eva é apenas a primeira ser levada e a sucumbir à tentação. Cada um de nós tem caído na mesma velha armadilha. Se você pensa sobre sua própria vida, tenho certeza de você se lembrará de exemplos onde esse padrão foi usado contra você, talvez apenas em seus pensamentos ou talvez em um livro que você leu (e existem muitos livros nas livrarias, tanto cristãos quanto não-cristãos onde esse mesmo padrão é usado). A primeira tática de Satanás funcionou tão bem que eu não acho que ele sentiu necessidade de modificá-la demais. O modelo de tentação não mudou.

Traduzido por Josaías Jr | iPródigo | Texto original aqui