Há muitas questões dentro da igreja sobre as quais podemos discordar. A doutrina da Ressurreição, entretanto, não é uma delas. A historicidade da ressurreição de Jesus é essencial ao Cristianismo.
Abordando essa questão, J. Gresham Machen escreve “A grande arma, com a qual os discípulos de Jesus viriam a conquistar o mundo, não era uma mera compreensão de princípios eternos, mas uma mensagem histórica, um relato de algo que havia acontecido recentemente: a mensagem ‘Ele ressuscitou’.” (Cristianismo e Liberalismo, p.30).
A ressurreição histórica, Machen explica, faz toda a diferença. Os discípulos não foram meramente convencidos de que Jesus ressurgiu em seus corações. Ele tinha realmente ressurgido dentre os mortos e aparecido a eles como prova. Por essa razão, eles foram chamados de testemunhas confiáveis desse fato (Atos 1.8).
É claro, Machen não está sozinho em atribuir tal ênfase sobre a historicidade da ressurreição. O apóstolo Paulo declara à igreja de Corinto que “Se Cristo não ressuscitou, é inútil a nossa pregação, como também é inútil a fé que vocês têm… E, se Cristo não ressuscitou, inútil é a fé que vocês têm, e ainda estão em seus pecados”. (1Co 15.14,17). Não é simplesmente uma questão de opinião pessoal, então, se Jesus ressurgiu fisicamente ou não do túmulo. Para os cristãos, é algo que confessamos como verdade absoluta.
Isso não signifca, contudo, que todo mundo creu na história da ressurreição. Frequentemente, pensa-se que os milagres eram aceitos naqueles dias antes de a ciência supostamente refutar essas coisas. C. S. Lewis chamou isso de esnobismo cronológico. Essa é a visão de que as gerações anteriores eram mais supersticiosas e menos inteligentes que a nossa. Entretanto, nossa época não é a primeira a duvidar da ocorrência de milagres, particularmente da ressurreição de Jesus.
Quando nos voltamos à Bíblia, descobrimos que as reações à ressurreição de Cristo são variadas. O que todas elas têm em comum é surpresa e enganos iniciais e, algumas vezes, houve até dúvida completa. Isso se deve à simples razão de que, contrariamente aos céticos modernos, as pessoas no século I não acreditavam que as pessoas ressurgiam dos mortos. Esse tipo de resposta à ressurreição é vista em diversos exemplos. Podemos examinar um exemplo de cada: surpresa, engano e dúvida.
Surpresa
Ainda era cedo naquele Dia de Ressurreição quando Maria Madalena e as outras mulheres levavam especiarias para ungir o corpo de Jesus. Elas estiveram lá, próximas da cruz, quando ele morreu. Elas até seguiram aqueles que o levaram para o túmulo, assim elas saberiam aonde ir para fazer isso (Lc 23.55). Jesus havia morrido em uma sexta-feira, e elas não poderiam ungir seu corpo no sábado, então esperaram até a manhã de domingo para fazer a jornada.
Quando se aproximaram do túmulo, discutindo quem teria removido a pedra para que elas pudessem entrar, elas se depararam com uma cena surpreendente. Havia um jovem (que elas não sabiam ser um anjo) vestido em vestes brancas e assentado próximo ao túmulo. Marcos nos diz que as mulheres estavam alarmadas. Quem poderia ter feito algo assim no local de sepultamento do Senhor delas? O anjo lhes disse que não se alarmassem, porque Jesus tinha ressuscitado. Ele as instruiu a ir e contar aos discípulos o que tinha acontecido. Marcos 16.8 nos dá a resposta delas: “Tremendo e assustadas, as mulheres saíram e fugiram do sepulcro. E não disseram nada a ninguém, porque estavam amedrontadas”.
A despeito das promessas de ressurreição no Antigo Testamento e do próprio testemunho de Jesus a seus discípulos de que ele ressurgiria dos mortos, naquele momento, elas não compreenderam o que havia acontecido. Pelo contrário, elas estavam cheias de medo e tremor. Dificilmente essa seria a reação de um antigo povo supersticioso. Pelo contrário, a reação delas foi compreensível, considerando o que esperavam encontrar no túmulo. O medo e surpresa, entretanto, tornou-se alegria quando o próprio Senhor apareceu a elas (Mt 28.9-10).
Engano
A figura dos discípulos não entendendo o que havia acontecido vem de Lucas 24 e dos discípulos na estrada de Emaús. Lá, descobrimos que dois discípulos estavam andando juntos e falando sobre o que tinha acontecido nos dias anteriores (o julgamento, a condenação e a morte de Jesus). Sem eles saberem quem era, o próprio Jesus uniu-se a eles em sua caminha e os perguntou sobre o que eles estavam falando e por que eles estavam tão tristes. Consternado com a pergunta do estranho, Cleopas respondeu: “Você é o único visitante em Jerusalém que não sabe das coisas que ali aconteceram nestes dias?” (v. 18).
Após mais questionamentos de Jesus, os discípulos explicaram como eles “esperavam que era ele que ia trazer a redenção a Israel” (v. 21). Mas agora que Jesus estava morto, e que mesmo seu corpo estava desaparecido do túmulo, eles sentiam que a esperança se fora. Eles se enganaram bastante sobre o que precisava acontecer. Então Jesus os disse: “Ó néscios, e tardios de coração para crer em tudo o que os profetas disseram! Porventura não convinha que o Cristo padecesse estas coisas e entrasse na sua glória?” (v. 25–26).
No Evangelho de Lucas, a palavra “convinha” é importante porque frequentemente ocorre quando Jesus fala de obras que ele deve cumprir. Convinha, ele disse quando criança, tratar dos negócios do seu Pai (Lucas 2.49). Mais tarde, ele declararia que era necessário que pregasse as boas novas do reino de Deus (4.43). Assim como era necessário nessas situações, também convinha que Jesus morresse. Os discípulos se enganaram porque creram que a morte de Jesus significava o fim de tudo o que ele havia prometido. O oposto, contudo, era a verdade. A morte e a ressurreição de Jesus significavam que tudo o que Deus prometera, desde o princípio, aconteceria. Assim que seus olhos foram abertos, Jesus desapareceu. Eles correram para contar aos outros e foi então que Jesus apareceu para a maioria dos discípulos.
Dúvida
Um exemplo final de reação à ressurreição encontra-se em João 20.24-29. Esse é o famoso incidente de “São Tomé”. Os outros discípulos já tinham visto o Cristo ressurreto. Eles já haviam crido na Ressurreição. A exceção, descobrimos no verso 24, era Tomé, que também eram chamado de Dídimo. Ele não esteve com eles quando Jesus apareceu anteriormente. Eles o asseguraram que Jesus tinha ressuscitado dos mortos, mas Tomé respondeu: “Se eu não vir as marcas dos pregos nas suas mãos, não colocar o meu dedo onde estavam os pregos e não puser a minha mão no seu lado, não crerei” (v. 25). Tomé, podemos dizer, era um empirista quando se tratava de validar a ressurreição de Jesus. Os outros tinham relatado a ele que viram o Senhor ressurreto com seus próprios olhos. Mas Tomé queria mais. Ele queria tocaras feridas que Jesus levou durante o caminho da crucificação. Sua posição não poderia ser mais firme: “Se eu não vir… não crerei”.
Enquanto a reunião naquela sala prosseguia, Jesus apareceu e se colocou entre eles. Ele voltou-se para Tomé e disse: “Coloque o seu dedo aqui; veja as minhas mãos. Estenda a mão e coloque-a no meu lado. Pare de duvidar e creia”. (v. 27). Jesus lhe ofereceu justamente aquilo que ele queria. Não porque Tomé tinha necessidade de evidência; pelo contrário, aquilo tinha mais relação com sua própria descrença.
Entretanto, a reação de Tomé foi surpreendente. Nós esperaríamos que ele se aproximasse do Senhor e examinasse todas as feridas que ele carregava, para certificar-se de que era ele. Afinal, era isso que ele disse que queria. Ele precisava ver e tocar. Porém ali, na presença do Cristo ressurreto, seus olhos foram abertos de uma maneira diferente. Em vez disso, Tomé respondeu: “Senhor meu e Deus meu!” (v. 28). Ele não mais duvidava, mas cria que Jesus tinha ressurgido dos mortos.
Esses relatos não são histórias que colocamos de lado como fábulas e mitos, como muitos fazem. Eles são evidências da própria ressurreição. Mas eles são evidências que funcionam somente dentro da estrutura do próprio Cristianismo. É preciso crer que Deus criou o mundo e que ele suporta, sustenta e governa todas as coisas por sua poderosa palavra. Além disso, deve-se também crer que Jesus é o enviado do Pai para redimir um povo para si mesmo (Ef 1). Ele é o Cordeiro que foi morto antes da fundação do mundo (Ap 13.8).
Nosso exemplo final nos fornece o raciocínio da própria Bíblia para incluir esses registros. João escreve: “Jesus realizou na presença dos seus discípulos muitos outros sinais miraculosos, que não estão registrados neste livro. Mas estes foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e, crendo, tenham vida em seu nome” (João 20.30-31). Lucas escreve algo parecido no começo do seu Evangelho (Lucas 1.1-4).
Os relatos que temos revisto nos confrontam com uma declaração absoluta: Cristo ressurgiu dos mortos. Sem essa realidade, não há perdão de pecados. A questão que fica é: Como nós reagiremos?