“Por que o trabalho e os negócios são tão importantes para Deus?” Eu tenho feito essa pergunta por mais de trinta anos. Gostaria de propor uma resposta pra esta complicada pergunta. É claro, a pergunta admite um ponto de vista – que trabalho e negócios são importantes para Deus – então é melhor começar por aqui.
Deus escolheu a forma primária e a trajetória da realidade na criação. Ele fez o mundo do jeito que é (e do jeito que está progredindo) a partir do amor e da criatividade. A maior parte do esforço, das empreitadas e da energia humana é direcionada para o que nós chamamos de “trabalho” – todo o leque de compromissos ativos e produtivos que as pessoas fazem para sustentar a si mesmas, à sociedade e ao planeta. Então é razoável dizer que, se nossas vidas são importantes para Deus, e nós gastamos a maior parte das nossas vidas trabalhando, e este fato da vida é parte do propósito de Deus para a humanidade, então nosso trabalho – e o tempo e a energia que nós gastamos nele – importam pra Deus.
Esta observação me levou às preciosas (poucas) páginas de literatura pré-queda no Gênesis. Apesar de breve, este material crítico é a única descrição que nós temos de como as coisas eram quando elas eram perfeitas – quando elas refletiam o que Deus tinha em mente. Essa história me fala bastante a respeito do que é importante para Deus.
A primeira coisa a perceber no começo do Gênesis é que o trabalho – aquilo que nós fazemos na Terra, uns pelos outros e pelo mundo – é um assunto central. Enquanto eu estudava Gênesis procurando o propósito de Deus para o trabalho e para nós como trabalhadores-administradores, eu vi seis aspectos do trabalho divino:
Intencionalidade (1:27; 2:6-8),
administração (1:28),
auto-sustento (1:29),
construção de ferramentas (2:15),
apreciação da beleza (2:9), e
colaboração (2:18).
Deus deseja que nós trabalhemos ativamente para cuidar uns dos outros e para cuidar do mundo, e, fazendo assim, sustentar nossas vidas mortais (em outras palavras, “ganhar a vida”). Eu acredito que o que nós vemos hoje em dia no exercício global do trabalho é o resultado natural de milênios de crescimento humano nestas tarefas, particularmente administração, construção de ferramentas (tecnologia) e colaboração.
Existem muitos domínios de trabalho, significantemente diferentes uns dos outros: governo, academia, medicina, negócios lucrativos, instituições sem fins lucrativos e ONGs, agricultura, forças armadas e religião. Ainda assim, todos são, de várias formas, fazer o trabalho que Deus começou na criação e continua a fazer por meio de nós. Co-criar com Deus é parte de sermos portadores de Sua Imagem.
Para a pergunta em questão: como isso se aplica aos negócios lucrativos? Os negócios são uma parte substancial do mundo do trabalho, e têm se tornado cada vez mais um poder dominante na sociedade global. Alguns dizem que corporações multi-nacionais são mais poderosas do que países. Se o aumento de empresas com fins lucrativos estiver enraizado na dinâmica de trabalho colaborativo iniciado por Deus a tanto tempo, e se esse aumento for uma expressão daquela dinâmica, haveria uma importância mais profunda nos negócios do que a que nós normalmente damos?
Há boas e tradicionais razões teológicas que apontam porque o trabalho é importante. Nós trabalhamos porque Deus trabalha. Nós trabalhamos para responder ao chamado fundamental para sermos administradores, dado na criação, o qual serve como ordem essencial para toda a humanidade. Nós trabalhamos para a nossa vida, para além de nós mesmos, e em serviço às coisas com que Deus se importa. Estas são boas respostas, mas elas ainda nos deixam com um “por que?”.
Por que trabalho? Por que auto-sustentar? Afinal, o Deus da criação é também o Deus do maná (comida grátis), o Deus do tatu e da tartaruga (casa grátis) e o Deus da Tillandsia (comedora de ar). Deus poderia ter feito as coisas serem bem mais fáceis para nós, mas não fez. Por quê?
Se você quer entender as perguntas “por que trabalho” ou “por que negócios”, acho que você pode fazer outra pergunta: “por que pessoas?”. Deus criou a partir do amor. Deus é amor, e a primeira e mais importante coisa que temos pra fazer é amar (I Coríntios 13, I João). Para amar, nós precisamos crescer como adultos maduros que podem parar com o leite e comer carne, e amadurecer em seres amorosos como Deus nos chamou para sermos (I Coríntios 3, Hebreus 5).
Hoje em dia, não há nenhuma situação em que nos peçam para sermos tudo o que Deus espera que sejamos. Nunca sequer nos pedem para sermos nós mesmos. Nós apenas devemos cumprir papéis. Alguns papeis demandam mais do que outros. É mais fácil ser um guarda de trânsito na frente de uma escola do que ser um pai. É mais difícil ser o melhor amigo do que ser um bombeiro.
Suspeito que uma razão porque Deus acha que o trabalho seja uma idéia tão boa é que o trabalho é uma versão simplificada da vida, onde nós podemos ser treinados para nos tornarmos pessoas. O trabalho é o parquinho de Deus. Ele convida seus filhos para brincarem juntos de uma forma que os ajuda a crescerem e se tornarem quem eles devem ser. Muitos papéis de trabalho são bem difíceis, mas eles são quase sempre muito mais simples do que os papéis pessoais ou relacionais. Papéis que expressam um maior grau da completude da experiência humana são mais difíceis e requerem mais de nós. A vida no trabalho é mais fácil do que a vida em casa, porque é uma experiência mais “bidimensional”. É focada em um conjunto menor de questões a respeito de algo que realmente é um estágio bem pequeno da vida.
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Fonte: http://www.cardus.ca/comment/article/1450/
Traduzido por: Daniel TC | iPródigo