Estive pensando bastante sobre isso ultimamente. Eu pensava sobre isso muito antes de ler Manage your Day-to-Day [Administre o dia a dia], mas o livro me ajudou a destilar esse pensamento em uma só sentença: “Nós tendemos a superestimar o que podemos fazer em um curto período e a subestimar o que podemos fazer em um longo período, desde que trabalhando devagar e com consistência”.
Essa é uma tentação em todas as áreas de nossas vidas: olhar para as soluções rápidas, procurar aqueles poucos grandes momentos em que irão se realizar mais do que em centenas ou milhares de pequenos momentos. “Anthony Trollope, um escritor do século XIX, conhecido por ser uma prolífico novelista e, ao mesmo tempo, por revolucionar o sistema postal britânico, observou: ‘Uma pequena tarefa diária, se diária, vencerá os trabalhos do espasmódico Hércules’. Ao longo da jornada, o hábito nada glamoroso da frequência fomenta tanto produtividade como criatividade”.
O espasmódico Hércules: é assim como muitos de nós nos comportamos. Agimos como se um grande momento de criatividade superasse milhares momentos de inatividade, como se aquele instante de agarrar a oportunidade sobrepujasse todos os outros desperdiçados. O pouco glamoroso hábito da frequência é o que faz muitos dos progressos da vida. Entretanto, somos constantemente tentados a colocar nossa esperança no que é breve e glamoroso.
Eu vejo isso no trabalho. Estamos propensos a acreditar que, a não ser que possamos tirar um tempo significativo para trabalhar naquele livro, projeto ou tarefa, é melhor nem nos incomodarmos com ele. Então, em vez de fazer pequenos trabalhos e avançar um ou dois passos, nós o deixamos dormente e, talvez, desperdiçamos aquele tempo. Nós tendemos a superestimar o que podemos fazer em um curto período e a subestimar o que podemos fazer em um longo período, trabalhando devagar e com consistência.
Eu vejo isso na criação de filhos. Nós investimos muita esperança em grandes momentos, fins de semana fora ou uma noite especial com as crianças. Mas negligenciamos aquelas centenas de noites de simples conversas, enquanto se lava a louça, ou de oração, antes de se ir para a cama. Nós tendemos a superestimar o que podemos fazer em um curto período e a subestimar o que podemos fazer em um longo período, desde que estejamos dispostos a trabalhar devagar e consistentemente.
Mas, sobretudo, eu vejo isso no crescimento espiritual. Somos constantemente tentados a acreditar que um grande e intenso momento espiritual nos trará uma maior e mais duradoura mudança do que um tão ordinário meio de graça. Nós temos mais confiança nos três dias de conferência do que no dia a dia de disciplina na leitura das Escrituras e na oração, no comprometimento semanal em pregar a Palavra e na adoração pública. Nós tendemos a superestimar o quanto nós podemos crescer em um curto período e a subestimar o quanto nós iremos crescer em um longo período, desde que simplesmente nos agarremos aos meios de graça ordinários de Deus.
É nesse ponto que muitos cristãos perdem sua confiança: eles querem um crescimento rápido e com resultados mensuráveis, e, por isso, desistem rápido. A confiança deles não está no trabalho de Deus, por meio de sua Palavra, quando nós a abrimos todas as manhãs e a ouvimos todo Domingo, mas em grandes conferências no fim do ano, ou naquela nova devocional, ou naquele novo método de estudo. Eles são mais distraídos e espasmódicos do que consistentes e disciplinados. Eles veem essa ou aquela maneira, em vez de simplesmente persistirem nos meios descritos por Deus.
O fato é que a maioria dos crescimentos na vida – o espiritual não é uma exceção – é medido por centímetros, não quilômetros. O território conquistado por um exército em uma marcha lenta costuma ser mais seguro do que o conquistado apressadamente. O crescimento espiritual não é menos real somente porque ele é lento e difícil de se mensurar. Na verdade, o contrário é que é verdadeiro.
Cristão, persista. Persista nos meios ordinários de graça. Persista mesmo quando, e especialmente, o crescimento aparenta ser lento. Persista na confiança que esses meios são usados por Deus para o seu bem. Deus os usa para o seu bem, para o seu crescimento e para a sua glória.