(A primeira parte deste post está aqui.)
Por que eu deveria votar? (parte 2)
Primeiro, diz ele, dê a César o que é de César. Isso sempre costumava me incomodar. Como é que Jesus pode colocar Deus e César lado a lado e dizer “estas coisas pertencem a Deus” e “estas coisas pertencem a César”. Não era pra tudo pertencer a Deus? Os rebanhos sobre milhares de montanhas são dele. Mas temos que lembrar o que a Bíblia diz sobre mordomia. Sim, Deus é dono de tudo, mas delega a responsabilidade para os seres humanos como seus mordomos. Deus é Rei sobre toda a terra, mas ele nos fez reis vassalos, os reis assistentes, reis mordomos, para povoar a terra e dominá-a sob a sua autoridade. Assim, Des nos chama para honrar os nossos pais, para honrar os governantes, os anciãos da igreja, professores, todos os que têm autoridade sobre nós. E eles têm o direito de serem pagos pelo trabalho que fazem. A própria palavra “honra” às vezes tem uma conotação financeira, por isso Paulo escreve a Timóteo: “vem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem“, evidentemente referindo-se ao pagamento (1 Timóteo 5:17). Pais idosos merecem o apoio financeiro de seus filhos, de acordo com 1 Timóteo 5:8. Até aqui, em nossa passagem, Jesus diz a seu povo que eles deveriam pagar impostos, que deveriam apoiar o governo. Jesus repreende aqui os rebeldes fiscais dos nossos dias que sonegam imposto de renda.
O povo de Deus, então, deveria ser de bons cidadãos. Eles deveriam pagar impostos, deveriam votar, deveriam cumprir todas as funções cívicas. A política não é tão importante, como veremos, mas é importante. Precisamos do governo para conter o pecado neste mundo e para defender o justo. O governo não vai salvar ninguém, mas este não é o trabalho do governo. Apoiamos o governo, não porque é salvado, mas porque Deus, nosso salvador, ordenou isso para o nosso bem.
Isso inclui os governos incrédulos? Certamente que sim. O governo romano era incrédulo. Além disso, esteve envolvido em muita maldade, incluindo o culto ao imperador. Esse foi o ponto que os judeus achavam tão difícil de aceitar. Como, segundo eles, podemos servir a um governo que se opõe ao nosso Deus e a todos os nossos valores? Mas Deus tinha respondido a esta questão, mesmo no Antigo Testamento. Naquela época, Deus disse a Israel que se eles não o obedecessem ele os colocaria sob o domínio de reis estrangeiros – Filisteus, Assírios, Babilônios – para levá-los ao arrependimento. Deus os disse que não resistissem a estes governos, mas que colocassem o pescoço debaixo do jugo deles (Jeremias 27:12) e aceitassem a disciplina de Deus. Então, hoje, Deus nos chama para sermos bons cidadãos, mesmo quando o governo se opõe aos nossos valores. Nós não devemos sonegar impostos nem sonegar oração ou obediência, a fim de protestar contra suas políticas.
Mas agora surge a pergunta, não era exatamente isso o que os fariseus queriam? Eles queriam que Jesus tomasse uma posição e assim as pessoas ficassem com raiva dele. Jesus não fez exatamente isso dizendo-os para pagarem impostos aos romanos? Sim, mas com uma diferença notável. Não se esqueça do pedaço que fala sobre a moeda. Jesus pediu que lhe dessem uma moeda. E eis que naquela moeda hava um retrato do imperador. À primeira vista, isso pode não parecer muito importante pra você, mas na verdade era. Naquela época, as pessoas não usavam somente um sistema monetário, como nós fazemos; haviam diversos sistemas disponíveis. Você poderia escolher que moedas você gostaria de usar. Agora, se você escolhe usar as moedas romanas, na verdade você estava declarando sua fidelidade a Roma. A moeda romana é um serviço romano. Se você usa serviços de Roma, você aceitou a autoridade romana. E se você aceita os serviços romanos, você tem que pagar por eles. Assim, as moedas eram pensadas de uma forma que pertencessem à pessoa que as fez. As moedas do imperador pertencem ao imperador. Então Jesus fez uma coisa muito inteligente, ou melhor, muito sábia. Ele devolveu a pergunta aos seus acusadores. Jesus disse a eles, “Vocês, fariseus e herodianos, vocês respeitam os romanos. Vocês usam as moedas deles para comprar pão, para pagar dívidas, para pagar seus trabalhadores. Claro que vocês devem dar algo de volta aos romanos por estes privilégios.” Então, se alguém tivesse que morrer por apoiar Roma, seriam os acusadores de Jesus. Por outro lado, se os fariseus e herodianos merecem viver, então Jesus também merece.
Mas nós olhamos somente metade da resposta de Jesus. Ele diz “Dai a César o que é de César”, mas também manda “dar a Deus o que é de Deus.” Aqui é o ponto fundamental: a política é importante mas não tão importante. Governo tem autoridade, mas não a autoridade absoluta. César tem alguns direitos, mas ele não tem nenhum direito além do que Deus permite. Quando o governo nos manda curvar-se diante de ídolos, como o rei da Babilônia mandou Daniel, nós podemos, nós devemos desobedecer o governo. Quando o governo nos diz que não podemos pregar o evangelho, nós temos que dizer com Pedro e os apóstolos, “Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens” (Atos 5:29). O governo não tem o direito de quebrar as leis de Deus, ou de exigir que qualquer um de nós faça isso. Sejamos claros sobre esta distinção: devemos apoiar o governo mesmo que ele quebre as leis de Deus; este foi o primeiro ponto. O segundo ponto, porém, é que nós jamais devemos quebrar as leis de Deus nós mesmos, seguindo ordens do governo.
E assim vemos que nossa esperança está somente em Deus, não no governo ou em qualquer movimento político. Mesmo quando fala sobre política, veja você, Jesus prega o evangelho. Deus colocou a nação de Israel sob a escravidão a Roma para que ela convessasse seus pecados, voltasse para Deus. Os líderes judeus pensaram que eles estavam sendo leais a Deus, contra os romanos. Mas em vez de voltar pra Deus, os líderes judeus estavam procurando uma forma de usar a política, a política romana, para matar Jesus, o rei de Deus, o messias de Deus. Feliz é a nação cujo Deus é o Senhor; mas Deus não vai honrar uma nação que volta as costas para ele. Estas pessoas eram pecadores. Eles estavam em uma necessidade desesperada de um coração novo. As perguntas sobre impostos eram de pouquíssima importância comparadas à questão de onde eles iriam passar a eternidade. Então Jesus indica o caminho: dar a César o que é de César, mas para Deus as coisas que são de Deus. Quais coisas são de Deus? Primeiro de tudo, nós somos. Como aquela moeda que trazia a imagem de César, eu e você carregamos a imagem de Deus. Nõs somos dele; nós pertencemos a ele. E como os judeus, nós usamos a política para evitar as demandas de Deus sobre nossas vidas. Nõs mecamos, como as Escrituras dizem. Mas a Bíblia oferece esperança. Dê a Deus as coisas que pertencem a Deus: a salvação pertence a Deus. Deus mandou seu filho Jesus para nos salvar dos nossos pecados. Os fariseus, herodianos e romanos finalmente conseguiram matar Jesus. Podemos dizer a partir de nossa passagem que eles não poderiam ter feito isso sozinhos. Eles não tinham o poder ou a sabedoria para matar Jesus Cristo! Jesus escapou da armadilha nesta passagem e claramente poderia ter escapado de qualquer outra emboscada. Mas era seu propósito derramar sua própria vida. E ele a entregou como sacrifício por todos os pecados de seu povo. Se você confiar nele para a sua salvação e honrá-lo como Senhor, você experimentará aquela liberdade do pecado que vai além de qualquer liberdade política. Os fariseus ficaram admirados com as palavras de Jesus, mas eles estavam tão cheios de ódio que não conseguiram ouvir a maravilhosa promessa de salvação para eles: Dê a Deus o que é de Deus. Dê seu coração a Jesus Cristo, e encontre o perdão e uma nova vida.
É assim que o cristianismo coloca a política em perspectiva. Buscai primeiro o reino de Deus, e então as bênçãos políticas, entre todas as outras bênçãos de Deus, nos serão acrescentadas. Não nos atrevemos a colocar nossa fé na política ou no governo. Mas, quando colocamos nossa fé em Deus, em Jesus Cristo, então podemos ver que o governo tem um papel importante. Cristo nos deu liberdade da tirania de um governo arrogante, mas também a liberdade para nos envolvermos na política, a fim de buscar uma sociedade melhor. E acima de tudo, ele nos dá liberdade do pecado, para que Deus ouça nossas orações por justiça. Nossa fé em Deus nos ajuda a ver a política como ela realmente é – não idolatrando-a, não descartando como algo sem importância, mas valorizando-a como um presente de Deus. Não há espaço aqui para fanatismo político ou desespero político. Deus está no trono.
Traduzido por Daniel TC | iPródigo | Original aqui.