Adoção, Identidade e Kung-fu Panda

Russell D. Moore
Russell D. Moore

Meus ombros ficaram tensos ao olhar para meus filhos comendo pipoca nos assentos ao meu lado. Não é que eu não pensava que um filme um dia iria trazer à tona algumas conversas familiares desconfortáveis e potencialmente traumáticas. Eu só não esperava que esse filme fosse o Kung-Fu Panda 2.

Nesse filme de animação, existe uma trama secundária envolvendo adoção para a qual eu não estava preparado para enfrentar. Você descobre (SPOILERS) que o panda protagonista, Po, não é filho biológico de seu pai. Ele foi encontrado abandonado em uma caixa quando ainda era um filhote. Po descobre que havia uma profecia antiga de que um rei malvado seria derrotado por um panda. O rei tentou se prevenir e destruir todos os pandas existentes, para garantir que seu rival nunca surgisse. Imagino que você possa dizer que ele estava perturbado, e toda Jerusalém também (Mateus 2.3), mas essa é outra História.

O filme lida com a constante busca de Po pela resposta do questionamento “Quem sou eu?”. É através de sua identificação com a antiga profecia que ele descobre sua identidade, e encontra paz consigo mesmo.

Eu temi, não porque o filme tratou de adoção, mas porque o pai adotivo parecia atribulado, quase envergonhado, ao “admitir” que seu filho era adotado. Meus ombros relaxaram ao longo do filme, conforme ele mostrava o que eu considerei uma visão útil e afirmativa do que talvez seja um dos aspectos mais conturbados da adoção.

Muitas (mas não todas) as crianças que foram adotadas eventualmente levantam as questões difíceis que o filme traz de forma leve e divertida. Muitos são assombrados pelas questões de “quem sou eu”, “e se” e “por que”. De certa forma, todos nós enfrentamos essas questões, independente de nosso passado. Mas para crianças que foram adotadas, é comum haver um senso de desamparo ao enfrentar esses questionamentos.

Se o darwinismo social fosse verdade, essas questões não fariam sentido. Em um mundo assim, a questão “quem você é” é primordialmente respondida pela genética. Se você não conhece seu passado genético completo, você nunca saberá quem você é realmente. Mas nós, que afirmamos nossa vida por meio do túmulo vazio de Jesus, sabemos que o mundo real não é assim.

Se você foi adotado, não há nada de errado em querer saber o máximo possível sobre o seu passado. Não há nada de errado em querer encontrar seus pais ou outros parentes biológicos. Isso é parte da sua história. Mas a palavra “parte” é muito importante aqui.

Se você conhece Cristo, medite na providência de Deus na sua história pessoal. Você é quem você é, e pertence onde você está, exatamente porque Deus planejou assim, para que você se tornasse quem você é. Nada lhe acontece por acidente. Todas as coisas, mesmo misteriosamente aquelas muito ruins que Deus odeia, se encaixam em uma história cósmica secreta em que todas as coisas acontecem “segundo o propósito da Sua vontade” (Efésios 1.11).

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Não importa o quão horrível seja o seu histórico, você não é uma aberração, e a sua vida não é um acidente. Sim, os genes são importantes. Você tem os genes que Deus desejou que você tivesse. Sim, a educação é importante. Você tem os pais que Deus desejou que você tivesse. É a relação entre esses dois aspectos que fazem quem você é. Apesar de todo o reducionismo de nossa era, nós nos tornamos o tipo de pessoas que somos por meio de uma curiosa combinação de criação, genes e decisões. Você não é escravo de nenhum desses aspectos.

E no seu caso, assim como no caso de todos nós, Deus orquestrou todos esses fatores para moldar você no tipo de pessoa que você é, com a experiência que você tem. Por quê? Você talvez passe milhares de anos sem saber. Se você está em Cristo, Deus está te preparando para reinar sobre o cosmos. Ele quer que você seja quem você é em Cristo, e esteja preparado para o reino.

O filme é um divertimento de duas horas; e foi realmente divertido. Eu diria “dois polegares para cima”, mas talvez você pense que é uma piada com pandas, polegares e design inteligente. Mas além de todo o entretenimento, eu me perguntava se toda a dor animada em 3D na tela talvez provocasse dor de verdade nas pessoas que eu mais amo.

Conforme saímos do cinema, eu começava a me preparar para qualquer conversa que fosse necessária dali em diante. “O que vocês acharam do filme?”, perguntei. “Quando ele começou a soltar aquelas bolas de fogo”, responderam animados, “foi muito legal!”.

Eles não parecem ter qualquer tipo de “crise de identidade” até agora, mas eu certamente tenho. A cada minuto de cada dia, eu me pergunto se eu sou quem eu era antigamente, o que a Bíblia chama de “carne”, ou se eu sou quem Deus me chamou para ser: no evangelho, um filho amado, e Seu herdeiro.

E, como um panda animado que eu conheço talvez diga, isso é simplesmente inacreditável!

Traduzido por Filipe Schulz | iPródigo.com | Original aqui