“Pense como um Calvinista. Pregue como um Arminiano.”
Era assim que um professor de pregação ensinava seus alunos a chamar pessoas à fé em um sermão. Ele não conseguia conciliar um sistema teológico que adota a soberania de Deus na salvação com um apelo para pessoas pecaminosas mudarem. Em última análise, esse professor achava que o Calvinismo fazia sentido bíblica e logicamente, mas não na prática.
Talvez você também tenha lutado com isso. Eu sei que lutei.
Houve uma época do meu ministério em que não chamei as pessoas a acreditar no evangelho. Eu pregava o evangelho, claro, mas somente com a esperança de que o Espírito usaria a sua palavra para regenerar espiritualmente adolescentes mortos contra a sua vontade. Simplesmente lembrava que eles deveriam crer no evangelho.
Mas eu mudei essa mentalidade. Não porque meu pêndulo balançou para uma posição mais equilibrada entre calvinismo e arminianismo – Não creio que foi isso. Foi porque aprendi a entender o que o Calvinismo é e, talvez mais importante, o que ele não é.
É calvinista apelar às pessoas a responderem com fé
Evitando rótulos teológicos por um momento, é bíblico e cristão chamar pessoas a crer no evangelho. Isso é, afinal, como Jesus começou seu ministério: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho” (Marcos 1.14-15). Você não precisa saber grego para reconhecer os imperativos.
Mas nós calvinistas adoramos citar Efésios 2.8. “Fé é um dom de Deus!”, exclamamos. “Não tem origem na pessoa!”.
A questão é: Quando não-cristãos se arrependem e creem no evangelho, eles expressam fé em Cristo? Ou Deus dá o dom da fé em Cristo aos homens? Sim! Por quê? As Escrituras ensinam que a fé em Cristo inclui ambos, um aspecto objetivo e subjetivo. Isso não é uma contradição. De preferência, os dois devem ser mantidos em tensão.
Objetivamente falando, fé é um dom de Deus (Ef 2.8, embora o “dom” é a obra completa da salvação, não somente a fé). Subjetivamente falando, a pessoa exercita a sua fé no evangelho (Ef 1.13). É por isso que Paulo agradece a Deus (lado objetivo) pela fé dos efésios no Senhor (o lado subjetivo; Ef 1.15-16).
Visto que a fé é ao mesmo tempo objetiva e subjetiva, estamos certos, como calvinistas, em chamar o descrente a por sua fé em Jesus.
Hipercalvinistas, de maneira inapropriada, enfatizam o aspecto objetivo da fé. Portanto, eles têm dificuldade em chamar as pessoas a colocarem a confiança em Jesus. Arminianos, por outro lado, de maneira inapropriada enfatizam o aspecto subjetivo da fé como, no fim das contas, responsabilidade do indivíduo.
O calvinismo e, mais importante, a Bíblia, de modo apropriado enfatizam ambos, razão pela qual podemos (devemos!) chamar aos descrentes crerem em Cristo, e realmente querer dizer isso.
Calvinistas creem que há poder no chamado à resposta
Alguém poderia responder, “Ok, fé é objetiva e subjetiva. Mas se a pessoa não for regenerada, o apelo à fé vem a ouvidos espiritualmente surdos e, portanto, vai necessariamente ser ineficaz”.
Mas essa resposta não reconhece que o poder para a pessoa mudar está situado não em sua atual condição espiritual. O poder está situado dentro da Palavra pregada através da obra do Espírito Santo. “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16).
É a Palavra que trabalha a mudança: Jesus disse ao paralítico para levantar. Deus disse que houvesse luz. Jesus disse a Lázaro para que saísse.
Charles Spurgeon disse certa vez:
O chamado efetivo da graça é precisamente similar [ao do Lázaro]; o pecador está morto em pecado; ele não está somente em pecado, mas morto em pecado, sem qualquer poder para dar a ele mesmo a vida da graça… A graça soberana chama, seja pelo ministro, ou diretamente sem alguma agência, pelo Espírito de Deus, “vem para fora!” e aquele homem vive. Ele contribuiu em alguma coisa para a sua nova vida? Ele não; sua vida é dada somente por Deus.
Pela graça de Deus, a sua Palavra, proclamada por pessoas pecadoras, contém o poder de transformar corações.
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Calvinistas oram para que descrentes respondam ao chamado.
Existe sentido em orar pelas pessoas para responderem ao evangelho se o número daqueles que vão responder é fixo nos planos de Deus para a eternidade?
Paulo parece pensar assim: “Irmãos, a boa vontade do meu coração e a minha súplica a Deus a favor deles são para que sejam salvos”(Rm 10.1). Por quem Paulo está orando? Israel, que procura estabelecer uma justiça própria através das obras da lei (Rm 9.31; 10.3) e não pela fé em Cristo.
Choca a você que Paulo ore pela salvação de Israel em sua mais extensiva porção sobre a soberania de Deus na eleição? Talvez uma oração como essa soe arminiana para você. Talvez soe como se o futuro está aberto para as almas que oramos, e que eles não foram predestinadas de um jeito ou de outro.
Porém, orar pela salvação de alguém é uma atitude totalmente calvinista. Por quê? Toda oração para que Deus salve alguém é ao menos uma confissão implícita de que essa pessoa não conseguem responder ao evangelho por seu próprio poder, quer reconheçamos ou não que este seja o caso. Quando você pede a Deus para salvar alguém, você diz, “Deus, tu deves fazer a obra de salvação nessa pessoa, senão ela não poderá voltar-se a ti.”
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Como pensar como um Calvinista e pregar como um
Para onde vamos a partir daqui? Essa discussão se resume em maneiras como os calvinistas devem proclamar o evangelho:
- Explicitamente chamar os não-regenerados a crerem no evangelho.
- Crer que o Espírito Santo vai fazer o trabalho para chamar efetivamente o eleito.
- Orar para que Deus salve pessoas através do inerente poder do Evangelho.
Mais do que apenas ser prático, o calvinismo contém o poder de chamar pecadores a responderem ao evangelho em fé.