Mais importante: Por que você quer saber?
O comediante de TV Craig Ferguson notou certa vez que a sociedade foi pega de surpresa quando os publicitários começaram a mirar os jovens consumidores dos anos 50. Eles fizeram isso, ele explica, para que as pessoas se apegassem aos produtos ainda cedo e passassem mais tempo de suas vidas investindo em determinada marca.
Mas todo mundo embarcou nessa onda, celebrando a juventude ao invés da sabedoria que vêm com a idade e a experiência. Quando “ser jovem” se tornou desejável, além de ser a última moda, as pessoas começaram a ter medo de não o ser, disse Ferguson. “As pessoas começaram a pintar os cabelos e a mutilarem seus rostos e corpos para parecerem mais novos. Mas você não pode ser jovem para sempre! Isso vai contra as leis do universo!”
A morte ainda é inevitável, no fim das contas. Mas as pessoas estão fazendo de tudo para lutar contra o envelhecimento, puxando e esticando aonde for possível.
Eu sou uma daquelas pessoas com um pé atrás em relação à cirurgia plástica. Desde que percebi que minhas amigas estavam ganhando cirurgias no nariz de presente de 15 anos, eu pensei que modificar o corpo é meio que uma trapaça. E quando vejo celebridades mais velhas com lábios que parecem pertencer à boca de um pato, eu fico até arrepiada.
Hans Madueme, um médico que está completando seu Ph.D. em teologia na Trinity Evangelical Divinity School, listou uma série de questões éticas a respeito de cirurgia plástica em um artigo recente para o Center for Bioethics and Human Dignity.
Ele fala que, para muitos de nós, a cirurgia plástica provoca uma reação de repugnância. O eticista Leon Kass chama isso de “sabedoria de repugnância”, a idéia de que nossa aversão indica um entendimento intuitivo de que algo não é moralmente correto. De fato, as aventuras cirúrgicas de Michael Jackson e Joan Rivers parecem contos atuais sobre moralidade.
Mas a cirurgia plástica é ruim por que não é natural? Depilar a axila e as pernas não é natural, mas não se ouve muita reclamação sobre como os americanos estão indo contra a natureza e à criação de Deus quando as mulheres compram lâminas de barbear.
Alguns podem dizer que muito do nosso cuidado (como pintar o cabelo ou se livrar do pêlo facial indesejado) é uma melhora estética temporária, enquanto a cirurgia plástica altera permanentemente algo que Deus nos deu. Mas a duração da mudança é, dificilmente, o melhor parâmetro ético. Além disso, não temos problema com cirurgias para consertar o joelho ou para remover um dente.
Será que a real diferença é, como eu pensei por muito tempo, entre tratamento versus melhoramento? Uma mulher que faz cirurgia plástica após a retirada de um seio por conta de câncer está ok, mas é muito suspeito quem aumenta seu número do sutiã sem necessidade médica.
“Pena que as coisas não são tão fáceis assim”, dia Madueme. “O mundo está cheio de complexidade moral e ética”, ao citar que perfume e maquiagem também são melhoramentos.
Um pastor amigo meu me disse certa vez, “A resposta luterana para toda questão é ‘Por que você quer saber? ’”. A questão sobre a moralidade do aborto será encarada de forma diferenciada se a pessoa que pergunta é uma mulher que abortou e está buscando perdão, uma mulher grávida que tem uma gravidez de risco e pensa em abortar, ou um jovem curioso que simplesmente está buscando instrução.
A resposta não muda, mas sim a forma como abordamos a questão.
Da mesma forma, talvez a melhor forma de abordar as questões sobre a moralidade da cirurgia plástica é deixar claro o porquê de estarmos pensando sobre isso. A mulher que pensa que seu casamento irá melhorar se ela aumentar os seios claramente precisa de ajuda – provavelmente, não o tipo de ajuda que o bisturi oferece. Mas e o homem que acabou de perder dezenas de quilos e tem pele sobrando o bastante para provar? Ele está moralmente justificado para fazer cirurgia? E alguém que tem uma marca de nascença que, mesmo sendo inofensiva, distrai todas as pessoas que a vêem?
Só porque a questão é moralmente complexa, não significa que não existem respostas. Significa, entretanto, que existem limites para o que podemos afirmar com exatidão. Mas entender a razão do porquê alguém busca a cirurgia plástica nos ajuda a entender se é correto ou não.
E há outro lado disso, voltando ao comentário de Craig Ferguson. Sim, nossa cultura de esticar tudo que é possível se rendeu à beleza e à aparência. Mas também é fruto da fragilidade e deterioração do nosso físico, e mais ainda do descontentamento. Nós buscamos significado e realização, e achamos que vamos alcançá-los se pudermos melhorar essa ou aquela parte de nossos corpos deteriorados.
Culturalmente falando, nós adoramos mais nossos corpos do que Deus. E mesmo que a cirurgia plástica possa ser um presente de Deus, ela também pode ser um sintoma de nosso apodrecimento cultural.
Traduzido por Filipe Schulz | iPródigo