O casamento real, que deve ser celebrado logo mais, será um espetáculo de milhões de dólares para a elite das celebridades e dos políticos. A cobertura das notícias se tornou frenética, enchendo sites de fofocas e programas de televisão a cabo com a especulação sobre quem vai estar lá, o que vai acontecer e quão grande tudo será. As celebridades estão até anunciando publicamente que receberam convites ou se lamentando pela falta dele.
Junto com o burburinho sobre o casamento, vem a especulação sobre que tipo de rei William será. Alguns têm esperado que Charles possa abdicar, de modo que feche o seu histórico conturbado e, assim, possam restaurar a dignidade (e até conferir mais glamour) à Coroa.
Muitos outros, especialmente deste lado do oceano, perguntam-se por que tudo isso importa. Isso é apenas mais fofoca de celebridade? É apenas mais especulação de tabloide?
Eu não posso deixar de notar que outra coisa maior está acontecendo. Há algo sobre a retórica que gira em torno do tema da realeza que soa absolutamente teológico.
Um bom rei
Não é suficiente ter um rei que venha da linha correta de sucessão ou com o direito legal de governar; as pessoas querem um bom rei. Elas querem um rei com alguma dignidade, que não carregue um passado duvidoso de divórcio e escândalos sexuais. E não são apenas os súditos do rei que se importam. Centenas de milhões em todo o mundo assistirão ao casamento amanhã.
Enquanto eu pensava sobre essas coisas, me voltei para 1 Samuel 8. Ali o povo de Israel rejeita o reinado estabelecido de Deus sobre eles, exigindo um rei humano, que governe como os reis das outras nações do mundo. Deus diz a Samuel para dar ao povo o que eles querem. “Tudo bem, eles querem um rei, dê-lhes um rei”, Deus parece dizer. “Eles nunca me ouviram, e eles não têm ideia do que estão pedindo.”
Samuel faz um discurso que revela a fragilidade de todos os reis ao longo da história. Ele diz a eles exatamente o que esperar:
“E falou Samuel todas as palavras do SENHOR ao povo, que lhe pedia um rei. E disse: Este será o costume do rei que houver de reinar sobre vós; ele tomará os vossos filhos, e os empregará nos seus carros, e como seus cavaleiros, para que corram adiante dos seus carros. E os porá por chefes de mil, e de cinquenta; e para que lavrem a sua lavoura, e façam a sua sega, e fabriquem as suas armas de guerra e os petrechos de seus carros. E tomará as vossas filhas para perfumistas, cozinheiras e padeiras. E tomará o melhor das vossas terras, e das vossas vinhas, e dos vossos olivais, e os dará aos seus servos. E as vossas sementes, e as vossas vinhas dizimará, para dar aos seus oficiais, e aos seus servos. Também os vossos servos, e as vossas servas, e os vossos melhores moços, e os vossos jumentos tomará, e os empregará no seu trabalho. Dizimará o vosso rebanho, e vós lhe servireis de servos. Então naquele dia clamareis por causa do vosso rei, que vós houverdes escolhido; mas o SENHOR não vos ouvirá naquele dia.” (1 Samuel 8.10-18)
A família real britânica, embora não seja uma monarquia repressiva agora, continua sendo uma das famílias mais ricas e poderosas do mundo por causa do legado de seu governo. Eles possuem uma quantidade inacreditável de propriedades, de fato, a maior parte de sua riqueza se deve às terras possuídas. Não são, necessariamente, terrenos adquiridos por meio de acordos de negócios, assim como a impressionante coleção de antiguidades egípcias do Museu Britânico não foi adquirida por meio de acordos de comércio justo com o povo do Egito. Assim como Samuel advertiu, todos os reinos humanos são marcados por um legado de acumulação de riqueza e de opressão.
Mesmo tendo sido avisados, os israelitas responderam de forma notável e bem típica:
Porém o povo não quis ouvir a voz de Samuel; e disseram: Não! Haverá sobre nós um rei. E nós também seremos como todas as outras nações; e o nosso rei nos julgará, e sairá adiante de nós, e fará as nossas guerras.(1 Samuel 8.19-20)
Eles não se preocuparam com as consequências. Eles queriam ver um rei, um herói, no centro de sua nação. Então, Deus deu-lhes o que eles queriam, e eles acabam recebendo Saul.
O que Deus está fazendo?
Quando lemos o livro de Samuel, há duas maneiras de entender o que Deus está fazendo. Por um lado, Deus “dá ao povo o que eles querem”, entregando-os à injustiça e ao sofrimento que certamente acompanhariam um rei humano. Não é sábio resistir ao reino de Deus. Por outro lado, na sua soberania, ele está revelando um mistério que acabará por levar a um rei muito maior: o reinado de Saul desemboca no de Davi, e a linhagem de Davi, em última análise, leva a Jesus.
Blaise Pascal descreveu como é vã a nossa tentativa de preencher o abismo infinito dentro de nós com qualquer coisa que não o próprio Deus. Talvez a obsessão em observar e esperar pelo o casamento de hoje vem de um lugar semelhante, um vazio dentro de nós que anseia pelo reino final do nosso Rei Jesus.
Em poucas horas, grande parte do mundo ocidental vai se reunir em torno de aparelhos de TV para assistir ao espetáculo incrível que certamente será o casamento. Haverá uma grande procissão e, finalmente, uma noiva aparecerá vestida de branco para se casar com o herdeiro do trono. Podemos assistir a tudo isso com um cinismo mal-humorado, podemos entender como uma reverência idólatra ou podemos compreender como um sinal apontando para um casamento em que nós vamos ser uma parte, e cujo Rei nunca decepciona, e cujo reinado nunca cessará.
[tweet link=”http://iprodigo.com/?p=5134″]O casamento real lembra a promessa do casamento de Cristo com sua Igreja; Ele não decepciona e seu reinado não tem fim[/tweet]
Traduzido por Gustavo Vilela | iPródigo.com | Original aqui