Há muito para se esperar quando o Senhor retornar e começarmos vidas novas nos novos céu e terra. Creio que podemos falar de infinitos prazeres nos aguardando – prazeres que não terão fim, porque o tempo nunca acabará. O maior desses prazeres será, sem sombra de dúvida, poder finalmente ver a Deus face a face, livres de todos os traços do pecado e do mal. De todos os prazeres do céu, nenhum oferece mais do que isso.
Mas o maior prazer do céu não é o seu único prazer. Tenho pensado em outra alegria que nos aguarda – a alegria de um relacionamento bem diferente com o tempo. Quando somos mortais, o tempo é um recurso finito. Mas quando dez mil anos são como um dia e um dia é como dez mil anos, o tempo será infinito e nós seremos imortais. Isso mudará todas as coisas.
Pensei nisso essa semana enquanto viajava para o Grace College em Indiana para falar em alguns de seus cultos de capelania. Eu tinha decidido aceitar o convite deles e estava grato pela oportunidade – eu gostei de falar aos estudantes e de conhecer alguns deles melhor. Há poucas coisas que eu goste mais do que passar tempo com estudantes de faculdade cristãos. Mesmo assim, ao aceitar o convite, eu tive que escolher não fazer outras coisas boas ao longo daqueles dois dias.
Uma das partes mais exasperantes da vida nesse mundo é que eu devo constantemente escolher as coisas boas que deixarei de fazer. Muito da vida não está na decisão entre o bom e o ruim, mas entre o bom e o bom. Mesmo na alegria de se fazer uma coisa agradável, há o sofrimento de ter de deixar de fazer uma outra coisa agradável. Três dias em Indiana são três dias longe de minha esposa e meus filhos. São três dias distante das pessoas que eu amo; e eu nunca terei esses dias de volta. Eu devo ter 7000 ou 8000 dias com meus filhos até que ele sigam com suas próprias vidas e, ao sair, eu permanentemente troquei três desses preciosos dias.
Esse é um resultado inevitável de ser mortal. Cada um de nós possuiu uma quantidade de tempo definida nesse mundo. Não sabemos quanto tempo temos mas sabemos que, um dia, ele acabará. Não importa quantos dias tenhamos, uma coisa permanece certa: não faremos todas as coisas que gostaríamos de fazer. Cada um de nós morrerá com um milhão de coisas deixadas por fazer, um milhão de sonhos por realizar, um milhão de tarefas deixadas pela metade, um milhão de coisas que poderíamos ter feito melhor. Cada um de nós morrerá com certo remorso pela forma como usamos nosso tempo e pela forma como priorizamos nossas responsabilidades e oportunidades. Tudo isso é verdade porque somos pecadores, mortais e nosso tempo é finito.
Mas quando nós não pecarmos mais, não termos mais que nos preocupar com a batida final dos nossos corações ou com o último soar do relógio e não lutarmos mais com a realidade da nossa mortalidade, não precisaremos mais nos preocupar com remorsos – não da mesma forma que aqui e agora.
Encontrei liberdade nisso: liberdade de saber que, mesmo que, nessa vida, as coisas não sejam da forma como deveriam ser, são da forma como serão inevitavelmente. Eu devo administrar fielmente meu tempo para glorificar a Deus nos dias que ele me deu. Mas, enquanto isso, devo manter em mente que sou finito, que o tempo é curto e que deve haver decisões difíceis e arrependimentos inevitáveis. Deus me deu todo o tempo que eu preciso para o que ele me chamou para fazer.
Enquanto isso, o céu promete que sempre haverá outro momento. E promete que poderemos sempre usar bem tanto esse momento quanto aquele, e sem remorsos. Isso certamente será uma alegria.