Não há muito tempo, eu assisti um documentário na TV sobre o crescimento do número de muçulmanos em pequenas cidades americanas. Em um momento no filme, um pastor protestante visitou o imame¹ local em sua casa. No início da conversa, o pastor deixou suas intenções claras:
“Meu propósito em te encontrar não é nenhum tipo de conversão. Eu respeito você e suas crenças. Você não vai mudar, eu não vou mudar.”
Há tantas coisas para desembulhar nessas três sentenças que eu mal sei por onde começar. Curiosamente, o imame reafirmou a última dessas três sentenças, oferecendo seu total consentimento para enquadrar a discussão dessa maneira.
“Eu respeito você e suas crenças”
Vamos começar com a segunda sentença primeiro: “Eu respeito você e suas crenças”.
O pastor está certo em respeitar o imame, se for por nada mais do que o fato de o imame ser um companheiro humano criado à imagem de Deus. É a imagem de Deus na humanidade que nos separa do mundo dos animais e nos dá um valor intrínseco e uma vocação única.
Ao falarmos “respeitar crenças”, deveríamos ser mais cuidadosos. Na maioria das vezes, quando um pastor ou líder na igreja fala sobre “respeitar as crenças de alguém”, eles querem dizer “respeitar a sinceridade com a qual uma pessoa se prende a uma crença”. Nesse sentido, tudo bem falar em “respeitar as crenças de alguém”. Porém, no sentido mais literal, “respeitar as crenças de alguém” pode ser tolice.
Se meu filho de 7 anos estivesse assistindo Peter Pan e depois decidisse pular da janela de casa e sair voando pela vizinhança, seria ridículo eu dizer, “eu acredito na sua crença”. Eu poderia respeitar a tenacidade de sua fé infantil, mas seria o primeiro a dizer, “Isso é estupidez”. Posso respeitar meu filho como um ser humano feito à imagem de Deus; de fato, eu posso amá-lo como um pai deveria amar o filho, e ainda assim apontar a falha em sua crença.
Da mesma forma, cristãos precisam distinguir (corretamente) entre demonstrar respeito pelas pessoas e (erroneamente) advogar respeito por toda e qualquer ideia que alguém acredita. Eu posso respeitar um amigo muçulmano sem respeitar totalmente a visão do muçulmano sobre o pós-vida, ou a explicação muçulmana sobre a cruz de Cristo, ou a ideia muçulmana de obras de justiça. Tais crenças não são dignas de respeito por estarem erradas, mesmo se as pessoas que acreditam nelas sejam valiosas, indivíduos preciosos feitos à imagem de Deus.
“Meu propósito em te encontrar não é nenhum tipo de conversão”
Mais problemática do que confundir o respeito pelas pessoas com o respeito pelas crenças delas, é a primeira declaração feita pelo pastor: “Meu propósito em te encontrar não é nenhum tipo de conversão”.
Como um cristão comprometido com o ensino dos ensinamentos de Jesus, não consigo entender como essa afirmação possa ser outra coisa senão uma abdicação da responsabilidade que Jesus deu aos Seus discípulos após Sua ressurreição: “Vá e faça discípulos de todas as nações”. Observe a ausência de qualquer qualificação. Jesus não disse: “Vá e faça discípulos entre os nominalmente religiosos de sua área”. Ou “Vá e faça discípulos daqueles que não acreditam em Deus totalmente”. Ou “Permaneça dentro das paredes da sua igreja e faça discípulos lá”. Não… a ordem de Jesus é clara. Ele é o Rei que possui toda a autoridade nos céus e na terra. Quando colocamos a Grande Comissão, juntamente com as reivindicações rígidas de Cristo por exclusividade, em seu devido lugar, vemos o quão equivocado é dizer que não temos nenhum objetivo de converter um descrente.
Com certeza, esse pastor será louvado por muitos na sociedade atual. Ele parece tão mente aberta e tolerante. “Meu propósito não é te converter”, ele diz, extraindo um “Ufa!” dos produtores do filme na medida em que a tensão na sala vai desaparecendo.
Mas, quando a afirmação do pastor é colocada dentro do contexto completo das Escrituras e o que o próprio Jesus diz sobre salvação, é o mesmo que dizer, “Eu não quero que você esteja comigo nos novos céus e nova terra”. É uma condenação implícita para a eterna perdição. Aqui estão todos os tipos de implicações em dizer algo assim:
○ Meu propósito não é apresentar-lhe Jesus. (Você está se saindo muito bem sem Ele, afinal.)
○ Meu propósito não é te mostrar como escapar do eterno julgamento. (Eu não estou levando Jesus a sério quando Ele fala sobre o fogo do inferno e todas essas coisas.)
○ Meu propósito não é adorar lado a lado com você, cantando louvores ao Cordeiro cujo sangue foi derramado por você. (Você continua na sua mesquita, e nós ficaremos em nossa igreja, muito obrigado.)
“Você não vai mudar”
Então, aqui está a afirmação mais problemática de todas. O imame e o pastor declararam rapidamente, “Você não vai mudar, eu não vou mudar”.
Agora, não há nenhuma surpresa quanto ao imame dizer tal coisa. Porém, para um ministro do evangelho – as mais explosivas e transformantes notícias jamais reveladas em nosso mundo – dizer “Você não vai mudar” é uma explícita negação ao poder do evangelho para transformar o coração humano. Não há fé em que Deus pode operar milagres. Não há fé em que Deus pode trabalhar tanto em um coração que suas afeições e crenças podem mudar dramaticamente.
E se o pastor aplicasse sua lógica a um alcoólico que fosse a ele para um aconselhamento? “Bem, Joe, você não vai mudar”. Ou a um homem que estivesse à beira de acabar com seu casamento devido à pornografia, “Desculpe, Sam. Você não vai mudar”.
A mensagem verdadeiramente inclusiva do evangelho
O evangelho é para todos. Ele é uma mensagem radicalmente inclusiva. Embora o mundo relute contra as exclusivas reivindicações de Cristo, nós investimos nas notícias inclusivas de que Ele é o Salvador de todo o mundo. Se eu falho em proclamar Sua mensagem, não estou seguindo a Jesus realmente. Ao invés disso, estou apenas disfarçando as ideias do séc. XXI com o traje cristão tradicional.
Qual teria sido o melhor caminho para o pastor guiar sua conversa com o imame? Seria melhor ele ter falado algo como:
Eu te respeito como uma pessoa feita à imagem de Deus. Eu respeito seu direito em acreditar em qualquer coisa que escolher. Eu nunca irei coagir você ou forçar as crenças da minha religião a você, isso seria desvirtuar a verdade de que você, assim como eu, é feito à imagem de Deus. E ainda, como um seguidor de Jesus Cristo, sou ordenado a compartilhar o evangelho. Quando procuro persuadi-lo a seguir Jesus, não é devido a um coração de opressão ou desejo pelo controle, mas por amor e preocupação. Uma vez que eu verdadeiramente acredito que o evangelho oferece esperança à toda humanidade, eu não posso mantê-lo somente comigo. O evangelho é muito precioso e você é muito valioso para mim para eu manter silêncio.
[tweet link=”http://iprodigo.com/?p=6095″]Já que verdadeiramente creio que o evangelho oferece esperança à toda humanidade, não posso mantê-lo somente comigo.[/tweet]
¹Imame é o chefe espiritual na religião muçulmana, é o sacerdote que é encarregado por dirigir as atividades superiores na Mesquita. [N.T.]
Traduzido por Fe Vilela | iPródigo | original aqui