Dentre os clichês açucarados que se ouvem em nossos dias, um que ouço frequentemente é que Jesus foi morto por ser excessivamente inclusivo e gentil. Dizem que ele foi crucificado por acolher os excluídos. Que foi assassinado por andar com prostitutas e mestiços. Que foi morto porque era tão corajosamente amoroso que seus inimigos não podiam mais aguentar isso.
Muitas dessas declarações são verdadeiras. Todos que conhecem verdadeiramente a Cristo vão abraçar sua maravilhosa graça, celebrar a expansão de sua misericórdia e tremem só de estar perto daqueles que não sabem o que é ser perdoado, ou o que é perdoar. Contudo, isso não torna o clichê verdadeiro; nem o torna inofensivo. São muitos cristãos, muitas igrejas, e não são poucas instituições cristãs outrora orgulhosas que tanto tem engolido valores culturais que o sentimentalismo se passa por teologia e slogans são confundidos com exegese.
A verdade é que os fatos da história – os quais os escritores dos evangelhos tentam explicar batendo na mesma tecla – é que Jesus foi crucificado por seu comportamento semelhante a Deus e as alegações ultrajantes de sua divindade.
Jesus, porém, guardou silêncio. E o sumo sacerdote lhe disse: Eu te conjuro pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus. Respondeu-lhe Jesus: Tu o disseste; entretanto, eu vos declaro que, desde agora, vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso vindo sobre as nuvens do céu. Então, o sumo sacerdote rasgou as suas vestes, dizendo: Blasfemou! Que necessidade mais temos de testemunhas? Eis que ouvistes agora a blasfêmia! Que vos parece? Responderam eles: É réu de morte. (Mateus 26.63-66).
O povo murmurou contra Jesus por comer com pecadores e coletores de impostos (Lucas 15.2), mas eles o mataram por afirmar ser o Filho de Deus e o Rei de Israel.
Os que iam passando blasfemavam dele, meneando a cabeça e dizendo: Ó tu que destróis o santuário e em três dias o reedificas! Salva-te a ti mesmo, se és Filho de Deus, e desce da cruz! De igual modo, os principais sacerdotes, com os escribas e anciãos, escarnecendo, diziam: Salvou os outros, a si mesmo não pode salvar-se. É rei de Israel! Desça da cruz, creremos nele. Confiou em Deus; pois venha livrá-lo agora, se, de fato, lhe quer bem; porque disser: Sou Filho de Deus. (Mateus 27.39-43).
Jesus perturbou frequentemente os escrúpulos judaicos sobre a Torá, mas foi sua auto-identificação que os levou a assassiná-lo. “Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus.” (João 5.18). “Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade eu vos digo: antes que Abraão existisse, EU SOU”. Então, pegaram em pedras para atirarem nele; mas Jesus se ocultou e saiu do templo.” (João 8.58-59). Antes que outro comentarista ou pastor ou jornalista sugira que Jesus tenha sido odiado, acima de tudo, por ser tão bom e tolerante, devemos lembrar que os judeus disseram explicitamente: “Não é por obra boa que te apedrejamos, e sim por causa da blasfêmia, pois, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo.” (João 10.33).
Jesus perturbou os sentimentos delicados dos religiosos superficiais? Sim. Ele irou os corações duros com o seu coração suave? Sim. Ele incomodou os guardiões dos portões oferecendo perdão para qualquer pecador que se arrependesse e cresse? De fato ele o fez. Todavia, não vendamos o escândalo da história do evangelho por um prato de mingau populista. O que mais enfureceu a situação da época foram as reivindicações de Senhorio, a postura de autoridade, os títulos exaltados, a postura messiânica, o direito presumido de perdoar, a maneira com que Jesus se colocou no centro da história de Israel, os delírios de grandeza, a aceitação de adoração, e a audácia de um homem sendo Deus. Jesus não morreu porque os perversos de Jerusalém não puderam suportar uma encarnação turbinada da Vila Sésamo. Ele morreu porque agiu como o Filho de Deus encarnado, falou como o Filho de Deus encarnado, e não negou a acusação quando o mundo o odiou por ser o Filho de Deus encarnado.