De todas as cartas do Novo Testamento, Hebreus parece ser uma que muitos cristãos acham estranha e desconhecida. Ali entramos no mundo de Melquisedeque e Arão, anjos e Moisés, sacrifícios e sacerdotes. Tudo parece tão Antigo Testamento, tão complexo, até mesmo confuso.
Se for assim mesmo, é hora de (re)descobrir hebreus. Mas como?
Um panorama
Uma das primeiras coisas a fazer ao estudar um livro da Bíblia é compreender o panorama. O segundo jeito mais fácil de fazer isso (mas normalmente o melhor) é folhear o livro. Observe as divisões naturais, isole os principais temas e escreva um breve resumo do argumento ou enredo.
A maneira mais fácil de fazer isso (a segunda melhor) é simplesmente consultar a Bíblia de Estudo de Genebra. Lá você vai encontrar um esboço de cada livro sem fazer esforço.
Essa é uma ótima forma de começar: Faça seu próprio esboço, consulte a Bíblia de estudos e compare as notas.
Na verdade, o panorama de Hebreus é bastante simples. Simplificando, é “Jesus é o maior.”
Jesus é: maior do que os anjos (caps. 1-2); maior que Moisés (3:1-4:12), maior do que os sacerdotes e sumo sacerdotes (4:13 -7:28) e maior do que os sacrifícios do Antigo Testamento (caps. 8-10).
Uma vez que isto é assim, como aqueles heróis da fé que aguardavam ansiosamente a vinda do Messias, é preciso: manter os olhos colados a ele como enquanto perseveramos na fé (cap. 11-12) e viver juntos como comunidade da nova aliança (cap. 13).
Se nos perdemos nos detalhes, Hebreus parecerá ser um livro longo, quase um labirinto. Mas se entendermos a quadro geral vamos ver por que o autor achava que tinha “escrito … apenas uma carta curta” (13:22, NVI).
Pedras preciosas
Dentro deste quadro, há tesouros inestimáveis a serem encontrados. Aqui estão cinco das jóias:
Primeiro, Hebreus é uma carta cheia de Jesus e nos mostra a Sua glória. Quanto mais lemos a carta, mais percebemos que ela não é sobre os anjos, Moisés, Melquisedeque, Aarão, ou adoração na antiga aliança. A verdade é que Deus ordenou o curso da história da redenção de tal forma que tudo isso se refere a Jesus.
Segundo, Hebreus nos ajuda a ver como o relacionamento entre a Antiga e a Nova Aliança é de unidade e diversidade. O autor nos diz isso logo no início: “Há muito tempo,” muitas vezes e de muitas maneiras, Deus falou com os pais, mas Ele o fez através dos profetas. “Nestes últimos dias,” Deus falou a nós, e fê-lo por Seu Filho. Nessas duas declarações a totalidade da mensagem da Bíblia é resumida: a revelação do Antigo Testamento é fragmentária e múltipla; Jesus é total e final. Ele revela a Deus perfeitamente, porque Ele é “o resplendor da glória de Deus e a expressão exata de sua natureza” (1:3). O Velho Testamento está cheio de cópias e sombras (9:23, 10:1). Jesus é o original e a realidade.
Em terceiro lugar, Hebreus comoventemente descreve a realidade da humanidade de Jesus. Numa primeira vista – se atolarmos no desconhecimento do sistema levítico – poderemos não perceber isso. Mas leia de novo, e isto vai ficar claro.
O Filho de Deus se fez como nós, partilhou a nossa origem humana, foi tentado, experimentou o sofrimento, e provou a morte (2:10, 11, 14, 18). Ele se tornou um irmão para nós (v. 17). É por isso que Ele é capaz de ajudar o tentado (v. 18).
O Filho de Deus partilhou a nossa fragilidade e levou ao céu a própria humanidade na qual Ele a provou. Por meio dEle podemos chegar com confiança ao trono de Deus, sabendo que há misericórdia a ser encontrada lá para a nossa fraqueza e graça para nossa pecaminosidade (4:14-15).
O Filho de Deus tornou-se um homem de orações e lágrimas. Sua obediência foi exercida no sofrimento. Nós podemos confiar Nele como a fonte da nossa salvação (5:7-9).
Quarta, Hebreus expõe maravilhosamente a glória de Jesus. Todos os capítulos apontam para isso. Vale a pena tirar um tempo e simplesmente ler os textos mais importantes. Estes incluem Hebreus 1:3; 2:9; 3:3, 4:14, 5:9, 6:20, 7:22, 8:1, 9:15, 10:12, 11:40-12:2 e 13:8. Jesus é “o mesmo ontem, hoje e sempre”, isto é, Ele está Aquele que foi fragmentada e preliminarmente revelado na antiga aliança, foi completamente revelado no novo, e será finalmente revelado no eschaton (no fim dos dias).
Em quinto lugar, Hebreus fala-nos com grande sensibilidade pastoral. É, afinal, uma “palavra de exortação”, ou incentivo. É realista sobre o sofrimento, o medo de perseguição, o perigo do desânimo, as lutas que temos contra o pecado, a possibilidade de retrocesso, paralisia espiritual produzida pela voz da consciência que nos condena, e a possibilidade de que possa nos faltar confiança. Seu remédio para cada enfermidade espiritual é indicado em uma teologia marcada por uma grande simplicidade casada a uma rica complexidade:
Fixe seus olhos em Jesus, o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa vocação, o fundador e consumador da nossa fé (3:1, 12:2). Veja tudo em função de quem é Jesus, do que Ele fez, e o que Ele continua a fazer hoje. Assim, tudo irá bem.
Traduzido por Gustavo Vilela | iPródigo | original aqui