Semana passada, consideramos o mandamento de Paulo de nos conduzirmos de uma maneira digna do Evangelho. Vimos como uma implicação desse comando é que nossa santidade deve ser impulsionada pela graça do Evangelho. Mas como o Evangelho molda e dirige nossa busca pela santidade? Como podemos trazer o Evangelho às várias facetas de nossas vidas de forma prática, para que possamos conduzir nossas vidas de uma maneira digna do Evangelho?
Hoje, quero tentar responder essas questões ao considerar 12 virtudes bíblicas diferentes e demonstrar como o Evangelho traça uma linha direta a cada uma delas.
1. Amor por Deus
Aqui, estou me referindo ao amor pelo próprio Deus na pessoa de Cristo que se manifesta em um desejo contagiante pela comunhão com Ele por meio de oração e leitura da Bíblia. 1 Pedro 3.18 nos diz que o propósito da obra de Cristo foi “para conduzir-vos a Deus;” – para que Ele pudesse restaurar-nos à comunhão com nosso Pai. Da mesma forma, 2 Coríntios 4.4-6 ensina que o Evangelho abre nossos olhos para finalmente enxergarmos a “glória de Deus, na face de Cristo”. Se, então, meus olhos foram abertos para ver tal beleza, quão incongruente seria se eu me apartasse de vê-Lo revelado em Sua Palavra, e de experimentar seu cuidado e seu poder em minhas orações? Se o objetivo do Evangelho era o de me levar a Deus, como eu posso deixar de buscar Sua face na adoração pessoal regular?
2. Amor pelos outros cristãos
Se Deus demonstrou Seu amor pelo Seu povo ao entregar Seu amado Filho à morte para assegurar a salvação dos crentes, como podemos não amá-los? De fato, como podemos professar que amamos Cristo mas não amamos Sua noiva?
Imagine se um homem diz ao seu amigo: “Ei, James, eu adoro passar tempo com você, meu irmão. Você me ajuda em muita coisa, e eu te amo em Cristo. Mas deixa eu te dizer uma coisa. Cara, eu não suporto sua esposa. Ela é simplesmente ridícula!”. No que você acha que isso vai dar?
Mudando a metáfora. 1 João 5.1 diz: “Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus; e todo aquele que ama ao que o gerou também ama ao que dele é nascido”. O que você pensaria se, após passar um tempo com vocês, um outro casal abrisse o coração para dizer o quanto amam você e sua esposa, mas dissessem que os seus filhos são um bando de pirralhos remelentos?
Entretanto, seus irmãos e irmãs são filhos do seu Pai. Eles, juntamente com você, são a noiva de Cristo. E, porque nós fomos servidos tão fielmente pela obra de Cristo no Evangelho, estamos prontos e ansiosos para servir um ao outro. Fomos resgatados do domínio das trevas por Aquele que voluntariamente entregou sua vida para nos redimir. Por conta disso, deveríamos estar dispostos a voluntariamente abrir mão de nossas vidas em serviço sacrificial e altruísta pelos nossos irmãos e irmãs.
3. Unidade
Bem perto disso está a questão da unidade. Se o Evangelho nos une a Cristo pela fé de forma que somos um com Ele, isso significa que também estamos unidos a todos aqueles que estão unidos com Ele. Assim, podemos buscar ansiosa e humildemente resolver divisões ao lembrarmos que já fomos unidos pela obra objetiva de Cristo em nosso favor.
Após chamar os Filipenses a conduzirem suas vidas de uma maneira digna do Evangelho, uma das primeiras coisas que Paulo diz é que espera encontrá-los “firmes em um só espírito, como uma só alma, lutando juntos pela fé evangélica”. O Evangelho nos faz um, objetivamente, e assim deveríamos andar, de forma prática, nessa unidade.
4. Humildade
A forma com que essa unidade pode ser alcançada é por meio da humildade. A unidade é cultivada quando se vive humildemente “considerando cada um os outros superiores a si mesmo” (Filipenses 2.3). E eu não sei se há uma resposta mais consistente com um Evangelho de uma graça soberana do que humildade. Não fomos escolhidos por Deus para a salvação com base em qualquer coisa em nós mesmos (Efésios 1.5; Romanos 9.11, 16). Se fomos salvos por um Evangelho pelo qual não podemos fazer nada para merecer, isso significa que em cada experiências, estamos recebendo mais do que merecemos. O Evangelho deveria nos fazer um povo humilde.
5. Alegria
O Evangelho é boas novas! Paulo chama o Evangelho de “coisas boas” (Romanos 10.15)! O Evangelho pela qual fomos resgatados de nosso pecado, perdoados, libertos da punição e trazidos à novidade de vida para vivermos para a glória de Deus traz a maior alegria imaginável! Quando desbalanceado e impróprio seria se fôssemos desanimados, entediados ou sempre reclamando. O Evangelho é a maior motivação no mundo para “regozijarmos sempre” (Filipenses 3.10, 4.4; 1 Tessalonicenses 5.16).
6. Generosidade
Quando Paulo busca impulsionar os Coríntios a ofertarem sacrificialmente pelos santos de Jerusalém, ele os lembra do próprio “dom inefável” de Deus a eles na pessoa de Jesus Cristo (2 Coríntios 9.15). Em 2 Coríntios 8.9 ele diz, “pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos”. Para nós, para quem o viver é Cristo e o morrer é lucro (Filipenses 1.21) – para quem Cristo satisfaz mais do que tudo que o dinheiro pode comprar – deveria ser a coisa mais natural do mundo sermos radicalmente generosos. Ambição, cobiça e descontentamento não fazem qualquer sentido para o Cristão, que possui todas as coisas em Cristo (Hebreus 13.5; 1 Coríntios 3.21-23).
7. Pureza sexual
O Evangelho nos traz as boas novas de mesmo quando éramos pecadores, fomos declarados justos aos olhos do santo e trino Deus. Como poderíamos nós, que fomos purificados pelo inestimável sangue de Cristo – unidos a Ele, que é perfeitamente puro – nos entregarmos à imoralidade e impureza sexual? “Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? E eu, porventura, tomaria os membros de Cristo e os faria membros de meretriz? Absolutamente, não. […] Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo.” (1 Coríntios 6.15, 20). Nossos corpos não são nossos; pertencem a Cristo. Ele os comprou pelo preço inimaginável de Seu sangue. Não consideremos o sangue de Cristo tão pouco nos envolvendo com imoralidade.
8. Pureza no falar
Algo relacionado a isso é a pureza no falar. Nós, que fomos beneficiados pela obra de Cristo, também chamado de Verdade (João 14.6), somos chamados a que “não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem” (Efésios 4.29). Paulo prossegue e diz em Efésios 5.4 que não deve haver conversação torpe, nem palavras vãs ou chocarrices, pois não é apropriado para aquele que foi declarado justo. Insinuações de duplo sentido, palavrões e piadas baixas não tem qualquer lugar nos lábios que já foram purificados pelas brasas do Evangelho (Isaías 6.6-7).
9. Liderança e submissão no casamento
Na gloriosa seção final do capítulo 5 de Efésios, Paulo nos diz que o casamento foi criado para nos apontar para o Evangelho – o relacionamento entre Cristo e Sua Noiva, a Igreja.
Maridos: sua vida é marcada pela liderança amorosa e de serviço à sua esposa? Você está tomando a responsabilidade proativa de pastorear sua esposa como Cristo nutre e cuida da igreja?
Esposas: seu caráter é marcado pela submissão alegre à autoridade de seu marido, como imagem da alegre submissão da igreja ao próprio Cristo?
10. Educação bíblica dos filhos
Pais, como poderíamos nós, que fomos adotados por um Pai tão amoroso, sermos frios, brutos e não dispostos a perdoar e demonstrar graça aos nossos filhos (Efésios 6.4)? Por outro lado, como poderíamos nos importar tão pouco com o bem estar de nossas crianças a ponto de deixar de discipliná-los e repreendê-los fielmente (Provérbios 19.18), mesmo que seja de forma dura, quando necessário, da mesma forma que o nosso Pai é fiel em fazê-lo com Seus filhos (Hebreus 12.5-8)?
11. Integridade no trabalho
Novamente, se servimos Àquele que foi chamado de Verdade, como poderíamos lidar desonestamente com as pessoas no trabalho? Para o bem ou para o mal, seus amigos e colegas de trabalho não crentes olham para você e formam opiniões sobre Cristo e Sua igreja. O que você está comunicando sobre Cristo e sobre o cristianismo com sua vida, seu discurso e suas atitudes? Você está negando com sua vida o que você afirma com seus lábios? Sua vida confirma a verdade sobre a mensagem que você proclama? Deveria ser claro para aqueles que trabalham com você, pelo seu discurso e pelas suas ações, que você é uma pessoa honesta – que você trabalha oito horas por dia para receber por essas oito horas, e que você está trabalhando para Aquele que é infinitamente mais importante que o seu supervisor (Colossenses 3.22-24).
12. Evangelismo
E, finalmente, como podemos confessar amarmos a glória de Deus revelada na face de Cristo e não ficarmos inquietos para proclamar as Boas Novas dessa glória para os outros? Para que eles possam amar e se regozijar naquilo que já sabemos ser infinitamente satisfatório e para que Deus receba a glória e a adoração que Lhe é devida por tantas pessoas quanto for possível. Simplesmente não é possível que nós, beneficiados por um Evangelho tão glorioso, possamos permanecer calados em dias de tão Boas Novas (2 Reis 7.9).
O Evangelho não é meramente a mensagem que te “leva até a porta” do cristianismo; é a mensagem que fortalece e sustém todos os seus esforços pela santidade por toda a vida cristã. Os tentáculos do Evangelho de Jesus Cristo tocam todas as facetas de sua vida. Eu oro para que essas reflexões te impulsionem a meditar mais ainda em como as verdades representadas no Evangelho tem consequências diretas nas várias situações, experiências e decisões que você lida todos os dias.